Em Buenos Aires

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Culpada ou inocente?

Eu tenho vários defeitos. Sou ansiosa, estressada, agitada, estourada e por aí vai. Mas se tem uma coisa que nunca fui é neurótica. Não costumo me culpar pelo que não posso resolver, nem ficar remoendo erros passados.

Bom, mas quando você se torna mãe parece que colam uma placa de culpada na sua testa. Lendo e conversando com outras mães, vejo que o tema culpa sempre vem à tona.

É claro que me senti culpada por ele ter ficado com fome no primeiro mês, por tê-lo deixado sentir frio ou acordar molhado. Ah! E por deixá-lo cair do sofá. Mas não fiquei me martirizando.

Na verdade, sempre penso que um pouco de adversidade é bom. Tem mãe que nem deixa a criança chorar. Eu deixo só um pouquinho, mas deixo.

A vida não é perfeita pra ninguém. A gente também sente fome, frio, calor e vontade de fazer xixi. E ele nem vai saber, porque nasceu homem, o que é sentir vontade de fazer xixi segurando uma transmissão ao vivo e com alguém (no caso ele) sentado na minha bexiga.

O engraçado é que de tanto ouvir sobre esta culpa de mãe, comecei a me sentir culpada por não me sentir culpada.

Será que devia ser mais zelosa, cuidadosa, menos desencanada? Será que eu preciso me sentir culpada porque ele chorou ou ficou incomodado com alguma coisa? Ou me sentir culpada por não ter me sentido culpada porque ele chorou ou ficou incomodado com alguma coisa?

Pelo visto, mãe tem mesmo uma placa de culpada na testa. E só nossos filhos vão ser capazes de nos perdoar e inocentar um dia. Como fizemos como os nossos pais.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Aqui e lá

Alguns aspectos comuns da eleição brasileira e da eleição de meio mandato americana me fizeram escrever este post. Aqui e lá, aconteceu, sem dúvida, uma guinada à direita no debate.

Lá, a culpa é da economia. A incapacidade de reação do governo Obama frente à crise (lá muito maior que a marolinha daqui) fez com que parte do eleitorado que depositou esperança no democrata migrasse para os candidatos republicanos, abrindo espaço para uma agenda conservadora.

E é no Tea Party, principalmente, que essa agenda encontra lugar. O movimento, ala do Partido Republicano, surgiu contra as reformas no sistema de saúde promovidas por Obama, mas defende também bandeiras como expulsão de imigrantes e fim da seguridade social. Corte de gastos público chega a ser desnecessário citar.

O movimento vai mais longe. É contrário à inclusão de negros e minorias, ao aborto e aos direitos civis dos homossexuais. Uma das principais líderes, a candidata a vice-presidente derrotada na chapa de McCain Sarah Palin se apropria do discurso religioso para colocar na agenda pública assuntos proibição do sexo fora do casamento.
 
Segundo o New York Times, o Tea Party tem o apoio de quatro em cada dez eleitores que foram às urnas. Não à toa, o recente movimento conseguiu emplacar sete senadores. Resultado baseado na instabilidade econômica, mas também na forma de atuação da ala republicana radical.

Os membros do Tea Party promovem, por exemplo, treinamento sobre como atrair eleitores. Algumas das dicas são abordar pessoas com crianças, cachorro ou quem tem a bandeira do país em casa.

Os pilares tradição, família e religião que amparam o conservadorismo do Tea Party também estiveram presentes na corrida presidencial brasileira. Num determinado momento da disputa foi a discussão religiosa que pautou o debate e prevaleceu em detrimento da agenda política.

O discurso conservador colocado na campanha significou, inclusive, retrocessos que não serão reparados nos próximos anos. Depois do resultado da eleição, até menções preconceituosas em relação a nordestinos e sectarimos foram colocados. Mas também é importante considerar os avanços.

Nos EUA, os republicanos cresceram em número de cadeiras no Parlamento, mas não pelo discurso conservador. O que preocupa mesmo os americanos no momento é o bolso.

Aqui, elegemos uma mulher, que não ganhou por ser mulher, mas se lembrarmos que há algumas décadas as mulheres nem votavam, este é sim um importante avanço.

Outro, sendo aqui mais otimista e adotando um enfoque pós-habermasiano, é que o simples fato de certos assuntos serem colocados na esfera pública faz com esses assuntos existem.

Se a discussão sobre o aborto, por um lado, trouxe retrocessos, por outro, passou a existir. É assim que se fortalece uma democracia. E a nossa por sinal chegou aos 21 anos. Idade pra amadurecer.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sou a favor do aborto, da união homossexual e dos direitos das minorias

Eu jurei que não queria escrever sobre o debate religioso nesta eleição. Primeiro, porque acho que tudo que podia ser dito ou escrito já foi. Segundo porque considero o assunto absurdo a ponto de não merecer comentário. Mas diante da perplexidade que me causam algumas informações que ando lendo por aí, não consegui calar.

Quando o discurso moral e as crenças religiosas se sobrepõem à agenda política é a democracia que sai enfraquecida. E não é a primeira vez que isto ocorre. Foram usados contra Getúlio Vargas, a favor da ditadura e pelos seguidores de Sarah Palin, recentemente, nos Estados Unidos.

Vivemos num Estado laico e esperamos continuar vivendo. Porque no dia que os excessos religiosos passarem a dominar o Brasil, vamos nos assemelhar a países como o Irã ou a Arábia Saudita.

É função do Estado garantir os direitos individuais. E os direitos de mulheres (que abortem ou não), homossexuais, negros, prostitutas, não podem ser maiores nem menores que os de católicos ou evangélicos. O Estado garante inclusive o direito à crença.

Agora, fé é uma coisa, agenda política é outra. Não é possível defender que casamento e união civil são a mesma coisa. Nem fechar os olhos para as milhares de mulheres que morrem em função de abortos clandestinos. E mais: aborto é também uma questão de cidadania. As mulheres só estarão em situação de igualdade com os homens quando exercerem o poder sobre o próprio corpo.

O debate desvirtuado que vem sendo colocado revela uma guinada super à direita. E eu tenho defendido que os conceitos de direita e esquerda deixaram de ter recorte apenas econômico. Hoje, estão mais relacionados a direitos das minorias. A campanha é uma prova. Por isso, com certeza quem sai perdendo são os movimentos sociais, de feministas, homossexuais e de outros grupos organizados da sociedade.

Mas esta campanha é também a contraposição de dois projetos. Um neoliberal e outro social. Leonardo Boff escreveu um artigo sobre o assunto e conclamou a união de dilmistas e marineiros por um projeto social. Porque o do Serra é sem dúvida neoliberal.

Outro representante da Igreja católica, Dom Aldo Pagotto, postou no youtube um vídeo pedindo votos para o tucano. Vale lembrar que ele é sabidamente ultraconservador e foi acusado de acobertar casos de pedofilia quando bispo de Sobral. Portanto ,entre este e aquele, parte de uma Igreja que tinha opção preferencial pelos pobres, fico com aquele.

Voto Dilma, sou a favor do aborto, da união civil dos homossexuais e dos direitos das minorias. Sou a favor da inclusão social num país que durante séculos esqueceu dos mais pobres. E sou a favor da liberdade de imprensa. Porque o Lula pode até reclamar, mas não é ele que costuma destratar nem pedir cabeça de jornalista por aí.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Lula e a imprensa

Os candidatos deixaram de ser os protagonistas destas eleições. O foco do debate gira em torno do presidente Lula e da imprensa. Excessos são cometidos de ambos os lados e a troca de farpas parece infindável.

Certos aspectos deste fenômeno precisam ser considerados. É inegável que nosso presidente é um democrata e já demonstrou isto repetidas vezes. Pode até reclamar da mídia, mas em nenhum momento praticou qualquer ato para cercear a liberdade de imprensa, ao contrário do que acontece em alguns dos nossos vizinhos.

Pra existir liberdade de imprensa, a liberdade de expressão também é crucial. A mídia tem e exerce o direito de falar o que quer, mas Lula também tem o direito, assim como qualquer cidadão, de concordar ou não.

O que a gente não cansa de ouvir por aí são críticas de setores mais conservadores ao controle social dos meios de comunicação, cunhado de censura. Bom, como o próprio nome diz não se trata de controle governamental, mas da sociedade. Já que a informação é um direito de todos, nada mais justo que todos exerçam o controle e não apenas cinco ou seis famílias donas dos principais veículos brasileiros.

Na minha opinião, a perspectiva teórica mais adequada para analisar as relações entre mídia e política é a que considera uma interface entre esses dois campos. Mídia e Política não são excludentes, nem tampouco se sobrepõem, mas caminham juntas, se complementam e ao mesmo tempo se confrontam.

Que a mídia tem um papel central na vida pública é evidente. Essa centralidade não pode ser ignorada na atual arena política, porém também não deve ser superestimada, pois o jogo político continua e não passa a ser exclusivamente midiático.

Nestas eleições, o quadro teórico toma contornos práticos. É claro, que se não existisse corrupção no governo Lula, dificilmente a imprensa seria capaz de provocar um bombardeio de informações contra o presidente e sua candidata.

Por outro lado, mesmo os exageros e excessos do noticiário não têm sido capaz de mudar o quadro eleitoral. Influencia sim. Dilma caiu um ponto nas pesquisas e os outros candidatos conquistaram alguns votos, principalmente, dos indecisos. Mas não reverte o cenário. Os eleitores também levam em conta outros aspectos na hora da escolha.

A possível e provável vitória de Dilma deve deixar de cabelo em pé não só a imprensa e a oposição, mas um conjunto de teóricos e acadêmicos que ainda defendem uma visão, datada do início do século passado, de preponderância da agenda midiática em detrimento da agenda pública.

Em 2006, Lula ganhou sem e apesar da mídia. Agora, tudo indica que Dilma vai repetir o feito. Talvez já no primeiro turno, no próximo domingo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Dica de mãe I

Algumas amigas já me disseram que vão recorrer a este blog quando tiveram filho, por isso decidi começar a deixar aqui algumas dicas.

Primeiro, gostaria de desfazer um mito. A gravidez não é a melhor fase da vida. Talvez seja praquelas pessoas que não trabalham, não estudam, não cuidam de casa, não andam de ônibus... Mas eu, pelo menos, não conheço ninguém assim.

Depois nasce e você se vê com aquela coisinha pequena que lhe entregam nos braços sem manual de instrução. E o pior, você corre o risco de estar operada e ficar recebendo um monte de visitas em casa.

Mas não é pior, é melhor. Porque não vem com manual de instrução, mas vem transbordando de amor. E o segredo é este: amor. Você vai errando, acertando e aprendendo.

Bom, a primeira dica que quero deixar aqui é sobre refluxo, porque este é um problema que me atormenta. Preciso registrar que é um pouco nojento e a gente fica fedida até conseguir tomar banho ou, pelo menos, trocar de blusa.

Todo mundo sabe que tem um monte de doença nova por aí – transtorno de déficit de atenção, síndrome do intestino irritado, intolerância à lactose, etc. Nossos antepassados viviam muito bem sem saber que existiam, mas nós temos que conviver com elas.

Pois é, antigamente criança golfava. Agora, tem refluxo. E o Tomás tem bastante, desde que só mamava no peito. Com a mamadeira piorou. O caso dele não chega a ser dos mais graves – algumas crianças não ganham peso e passam por uma série de complicações -, mas exige certos cuidados.

Um deles é deixar a criança em pé depois que mama. Antes deixava 15 minutos, diminuí pra dez e agora pra cinco, mas nunca menos que isso. Outro é levantar a cabeceira do berço com um travesseiro anti-refluxo ou colocando alguma coisa embaixo e dar sempre a mamadeira com a cabeça da criança um pouco mais alta.

A pediatra do Tomás achou melhor, e eu também, não dar medicação, esperar até os seis meses pra ver se melhora.

Resolvi testar o leite anti-refluxo e funcionou. O problema é que forma uma papinha e prende o intestino. Então agora, dou três mamadeiras com esse leite e três com o Nan confort. Vale dizer que cada criança se adapta melhor a um leite, fui testando até encontrar a melhor combinação.

Agora também comecei a dar fruta e colocar mucilon no leite, com orientação médica, um mês antes do previsto. É que nos últimos dias ele deu uma piorada e está cada diz mais difícil fazê-lo comer, tanto que ganhou bem menos peso no último mês do que vinha ganhando. Vamos esperar pra ver se dá resultado.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ele dorme com os anjos

Todas as tarde o Tomás dá um passeio, depois toma banho, mamadeira e dorme. Às vezes antes das seis da tarde e vai até as seis da manhã. Sei que é de matar qualquer mãe de inveja.

Pouco depois de um mês, quando deixou de passar fome, as noites foram ficando cada vez mais tranqüilas. Antes dos dois meses, deixou a mamadeira da madrugada. Agora, toma a última à meia-noite. E é o papai quem dá.

A qualidade do sono do Tomás sempre foi uma preocupação minha, afinal ele tem uma mãe que dorme pouco e um pai que quase não dorme.

Desde o começo tentei criar uma rotina para dormir, com massagem, banho, carinho e música. E ele foi se acostumando a dormir sozinho. É até engraçado porque quando fica com sono, se estiver no colo, começa a chorar e só dorme quando vai pro berço, vira a cabecinha de lado e coloca um pano no rosto.

Com raríssimas exceções, as noite aqui costumam ser bem tranqüilas. Dá até pra namorar.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Cortando o cordão

Esses dias fiz um freela (prometo divulgar os vídeos quando ficarem prontos) e foi um teste de como vai ser a vida quando voltar a trabalhar.

Confesso que adorei colocar os neurônios pra funcionar. Por mais que ame o meu filho, esta vida de ficar a maior parte do tempo em casa cuidando de criança cansa, cansa.

Mas fui com o coração na mão. Ele ficou em casa com a Beatriz, que trabalha comigo, e chamei uma diarista pra dar um suporte. Ainda não decidi se este vai ser o modelo quando voltar a trabalhar ou se ele vai pra creche.

O bom é que correu tudo bem. Eu resisti e ele também. Na verdade, já tinha até ficado um pouco mais de tempo longe dele, dormimos uma noite separados, mas ele ficou com a minha mãe.

Dói, é difícil, mas é preciso cortar o cordão. Muita gente dizia que eu ia sentir saudade da barriga, não senti nenhuma. Prefiro meu filho do lado de fora, lindo e sorridente.

Nunca vou esquecer a primeira vez que saí sem ele. Acho que tinha menos de uma semana. Resolvi ir ao salão, fazer unha e cabelo, porque até mulher parida tem direito de se arrumar.

Fiquei aliviada de pela primeira vez, depois de tanto tempo, andar sem a barriga, andar sozinha. Deu uma sensação de que aos poucos a vida voltaria ao normal. Melhor assim, cada um com a sua vida, infinitamente ligadas, mas independentes.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cinco anos depois do Katrina

As matérias na mídia americana demonstram um certo otimismo em relação à recuperação de Nova Orleans, cinco depois do Katrina.

Falam de reencontros, reconstrução e engajamento. Mas também mostram vidas que jamais vão se recompor. Familiares que desapareceram. Gente que não consegue reconstruir o que perdeu.

Estive em Nova Orleans em 2002, realizando um desejo antigo. A palavra que melhor definia a cidade naquele época era vibrante.

Havia um jazz em cada esquina. Pessoas cantando, dançando e uma comida cajun maravilhosa, parecida com a baiana, por sinal.

Na verdade, é possível dizer que Nova Orleans tinha alguma coisa de Brasil. Porque era justamente a mistura de raças e de culturas que tornava a cidade vibrante.

Hoje, estima-se que pelo menos um quarto da população não voltou pra casa. E os que não voltaram foram principalmente os mais pobres, negros e mestiços.

É claro que é uma grande conquista a reconstrução de casas, escolas, hospitais... Ainda mais levando em conta o descaso inicial.

Mas também existem coisas imateriais a serem reconstruídas. A alegria e a confiança de um povo. A vibração de uma cidade.

Um dia, eu gostaria de voltar em Nova Orleans e encontrar tudo isso de novo.

Descobrindo as mãos


Acho que o mais fantástico de ter filho é acompanhar o desenvolvimento de uma pessoinha que muda o tempo todo, está sempre descobrindo e aprendendo algo novo e que é capaz de se surpreender com coisas que nem damos importância.

E o Tomás descobriu que tem mãos. No começo, era muito engraçado vê-lo passando uma mão na outra e olhando aquilo encantado.

Depois ele percebeu que era capaz de colocar as mãos na boca, segurar a mamadeira, colocar tudo que aparece na frente na boca e até me segurar para que eu não saia de perto do berço.

O próximo passo foi o abraço. Quando está no meu colo ele me agarra forte. E como aprende rápido, também já sacou que pode gritar pra não desgrudar de mim.

Nada pode ser mais maravilhoso do que o amor de um filho, mas eu continuo no meu propósito de deixá-lo ser um menino forte e independente. Por isso, os gritos não me dobram. Tem hora pra ficar no braço da mamãe, mas também pra ficar sozinho no carrinho ou no berço, porque a mamãe não é de ferro.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Aquele dia 25 II

Hoje faz um ano que descobri que estava grávida. Como já escrevi num post anterior, com o mesmo título, todos os dias 25 são especiais pro César e pra mim, mas aquele 25 de agosto a gente nunca vai esquecer.

Mais tarde vamos comemorar. Afinal, nosso filho foi a melhor suspresa e o melhor presente que a vida poderia nos dar.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Obama e o Iraque

Se Bush ficou com o ônus de ter invadido o Iraque, com certeza Obama leva o bônus por prometer e cumprir a retirada das tropas do país.

Depois de alguns adiamentos, agora foi pra valer. O porta-voz do governo iraquiano chegou a admitir que o exército do país não estava completamente preparado, mas que contaria com a ajuda dos países vizinhos para manter a segurança.

A saída do Iraque é importante para o governo Obama por ser uma das principais promessas de campanha. E vale dizer que poucas foram cumpridas até agora. A prisão de Guantánamo continua funcionando e o índice de desemprego atingiu um novo recorde nos últimos dias.

O sentimento de esperança parece se desmaterializar entre os americanos e a popularidade do Presidente fica cada dia menor.

Na minha dissertaçao de mestrado, analisei a cobertura da eleição de Obama. Naquela época, a palavra que permeiou e sintetizou todo o processo foi mudança. E a frustração percebida hoje parece ser proporcional ao entusiasmo do período.

Mas a saída do Iraque é importante principalmente para os iraquianos. O resultado das últimas eleições foi apontado por especialistas como prova de que o país está no caminho para uma democracia.

Aqueles favoráveis à guerra (se ainda são) podem até usar esse argumento. Mas é bom lembrar que o custo foi alto demais. Destruiçao e vidas humanas perdidas. E esta conta, ninguém vai pagar.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O mar


Sempre que eu penso em casa (sim, porque o lugar de onde a gente vem nunca deixa de ser a casa da gente), é o mar que me vem a cabeça. Sinto falta do cheiro do mar, do barulho do mar, de sentir a água do mar.


Por isso, na primeira oportunidade levei o Tomás para conhecer o mar, um dia antes dele completar três meses. Coisa de mãe pouco prudente. Mas se eu gosto tanto, ele também deve ter gostado.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Não dá para adiar a viagem, Tomás já tem três meses de idade

O motivo de ter ficado um pouco ausente do blog foram as viagens com o Tomás para visitar as famílias em Fortaleza e São Paulo.

Ficamos mais de um mês fora, cheios de mimos e carinhos de avós, tios, amigos. Agora estamos de volta. E ele já tem três meses. Como passa rápido..

O meu receio em relação ao avião, ele tratou logo de contornar. Dormiu o tempo todo e só abriu os olhinhos algumas vezes para distribuir sorrisos para as aeromoças e passageiras. Um conquistador esse meu filho.

Na volta de São Paulo de carro, ele também se comportou muito bem. E olha que foram quase nove horas. Às vezes, até brinco que o Tomás não parece bebê, já nasceu menino.

Neste mês, o Tomás aprendeu a brincar com as mãos e segurar coisas. Agora, ele sorri e grita o tempo todo e já dorme a noite inteira. Também conheceu o mar, mas este é tema para um próximo post.

As avós ficaram cheias de saudade e eu voltei para a minha rotina de mãe em tempo quase integral, por enquanto. Com alguns intervalos para leituras e este blog.

domingo, 11 de julho de 2010

Minha amiga Octavia

Recebi a notícia da demissão de Octavia Nasr da CNN com espanto. Depois veio a tristeza. Uma tristeza de cunho profissional, mas principalmente pessoal.

A decisão da emissora motivada por um twitt coloca em cheque a liberdade de expressào e o uso de mídias alternativas pelos jornalistas. E logo a CNN? A experiência mais ousada de jornalismo internacional e a menos conservadora das emissoras americanas.

Dá saudade da época do Ted Turner. O fundador da rede costumava afirmar que na CNN não existia "nós e eles". Mas isto era antes do 11 de setembro e da proclamação do eixo do mal. Cada vez mais fica claro que existe um nós ligado a Israel e um eles que é o mundo árabe.

E a Octavia nasceu no Líbano, mas é cristã e cidadã americana. Uma pessoa que construiu uma vida e uma carreira nos Estados Unidos e ama aquele país. Mesmo assim sofreu as consequências de ser uma  mulher do Oriente Médio. Afinal, depois ela mesma explicou que lamentava a morte de Fadlallah pois ele avançou muito em relação aos direitos femininos. Coisa que provavelmente só uma mulher do mundo árabe é realmente capaz de entender.

Lembro quando Octavia contou da sua alegria em ter um passaporte americano, pois o libanês vivia trazendo problemas. Pelo visto, agora um passaporte americano não é mais suficiente.

A frustração pessoal vem de uma longa história, de um sonho de infância de trabalhar na CNN. Nunca vou esquecer o dia que ela ligou pra minha casa depois de ter selecionado meu curriculo e nem do abraço com que me recebeu na primeira vez que entrei na CNN.

A Octavia foi mais que uma chefe, quase uma mãe. Logo me acolheu na casa e na vida dela. E foram inúmeros os cafés, almoços, vinhos e longas conversas. Sem contar tudo que me ensinou.

Há algumas semanas, recebi um macacão da CNN pelo correio; presente dela para o Tomás. Por isso, lamento pelo jornalismo mundial, pelo que a democracia americana está se tornandlo, mas principalmente pela dor de uma grande amiga. 

Estou em Fortaleza com o Tomás, por isso tenho deixado o blog um pouco de lado, mas o assunto merecia um post, não podia deixar de escrever.

sábado, 26 de junho de 2010

O Mamãe, Coragem também apóia Dilma

O blog Nas Retinas (http://www.emerluis.wordpress.com/), do jornalista Emerson Luís, declarou apoio à Dilma Rousseff e defendeu o direito do cidadão de apoiar seu candidato, apesar das tentativas do Ministério Público e do TSE de impedir a livre manifestação de pensamento na internet.

Inspirada no Emerson, também decidi declarar aqui apoio a minha candidata. É Dilma para presidente.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um estranho candidato

Está causando polêmica nos Estados Unidos a indicação de Alvin Green como candidato democrata ao senado americano pela Carolina do Sul. Até ser escolhido com 59% dos votos, Green era um completo desconhecido.

Ele tem 32 anos, está desempregado desde que foi expulso do exército, responde processo por mostrar pornografia na internet e mora com o pai.

O que ninguém consegue explicar é como Green foi indicado, sem ter feito campanha nem possuir, ao menos, página internet.

Matéria publicada na última semana no Wall Street Journal mostrou, por exemplo, um eleitor que afirmava ter votado no candidato por ele ser o primeiro na chapa e outro pela sonoridade do nome.

Especula-se ainda que o candidato tenha sido plantado nas prévias democratas pelos republicanos. Um dos motivos é o pagamento de uma taxa de 10 mil dólares para concorrer, já que Green recorreu a um defensor público para se defender das acusações de pornografia por não ter condições de pagar um advogado.

Na minha dissertação eu tento (e é mera tentativa), se não explicar, pelo menos apontar alguns aspectos do complexo sistema eleitoral americano.

As indicações dos candidatos ocorrem em prévias e primárias estaduais, que podem ser fechadas – nas quais só votam eleitores registrados nos partidos – e abertas - em que os eleitores podem participar da escolha de qualquer partido. É o caso da Carolina do Sul.

Os republicanos poderiam, portanto, ter plantado Alvin Green como candidato e ainda garantido os votos para indicação. A hipótese parece improvável, mas não é impossível.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Nem só de alegrias se faz uma mãe

O que eu tento mostrar aqui é que a maternidade pode (e deve) ser vivida de uma forma tranqüila. Mas é claro que o caminho também é cheio de percalços. Por isso, hoje, resolvi falar um pouco das dificuldades.

No primeiro mês do Tomás, eu ficava noites inteiras acordada e amamentando. Mesmo assim, ele não parava de chorar. Só depois de alguns dias descobri que o problema era fome.

Passei a dar mamadeira e aí vieram os gases e a prisão de ventre. E haja massagem e luftal! Também faço pausas durante a alimentação para ele arrotar e o deixo pelo menos dez minutos na posição vertical depois de comer, porque o refluxo piorou (mais um ponto para o leite materno).

O frio, que neste ano chegou bem mais cedo, me angustia um pouco. Durante as madrugadas fico dividida entre tirar a roupa para trocar a fralda ou esperar mais um pouco e deixá-lo molhado. Às vezes agasalho demais e em outras de menos, mas sempre pensando em fazer o melhor.

Diante das dúvidas e da pouca experiência, acho que já fiz o Tomás passar fome, sede, frio, calor.. . O consolo é pensar que ele não vai lembrar de nada disso. E além do mais, viver não é mesmo fácil pra ninguém e ele precisa se acostumar.

O Tomás já completou dois meses e pela segunda vez dormiu a noite quase toda. Já dá uma sensação de que ele está crescendo e que o tempo passa mais rápido do que a gente pensa.

Nas horas mais difíceis eu tento lembrar que cada momento é único, cada noite mal dormida não vai se repetir e por isso precisa ser curtida. Ele só teve um mês uma vez e só vai ter dois meses uma vez também. E daqui a uns dezesseis anos, vou ficar acordada esperando ele voltar da farra e com certeza vou ter saudade das noites insones, mas a dois, de hoje.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pé na estrada

O meu mineirinho, que nasceu no dia de Tiradentes, já fez sua primeira viagem. Advinhem para onde? Para a cidade histórica de Tiradentes.

Um tio do César convidou para a festa de seus 70 anos em Juiz de Fora e na véspera apareceu uma pauta em Tiradentes. Decidimos então que já era hora de o Tomás (com 50 dias) colocar o pé na estrada e seguimos viagem para as duas cidades.

O mais complicado de viajar com o Tomás é a bagagem. Levamos carrinho, cadeirinha, roupinhas, sapatos, cobertor, fralda, esterizador de mamadeiras, garrafa térmica e por aí vai.

No carro, ele dormiu o tempo inteiro e precisou ser acordado algumas vezes para mamar. As temperaturas mais baixas que em Beagá me deixaram um pouco apreensiva, mas nada que algumas camadas de roupa não resolvessem. Fizemos até turismo enquanto o César trabalhava.

O Tomás suportou bem os deslocamentos e o frio. Acho que teve apenas um pouco mais de refluxo que o normal. No final do mês, seguimos pra Fortaleza e será a primeira viagem dele de avião. Aliás, primeira depois de nascer, pois como lembrou uma amiga, ele começou a viajar quando ainda estava na barriga.

Ai que frio!















E o inverno ainda nem começou...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Realidade Mulher


Outro dia o César chegou em casa com um mimo pra mim. Uma reimpressão da Revista Realidade publicada em 1967 sobre “A mulher brasileira”. Pra quem não sabe, a revista era assim mesmo, cada edição tratava de um tema específico.

Adorei o agrado, mais até do que ele tinha pensado. Devorei a revista, sem conseguir parar de ler. (Parando, claro, quando o Tomás solicitava).

A edição faz inveja a muita publicação atual e trata a temática feminina com mais clareza e menos preconceito do que grande parte das matérias que lemos e assistimos no dia 8 de março.

De qualquer maneira, a minha idéia não é teorizar sobre a forma como a questão é tratada ou as opiniões são apresentadas, mas apenas dividir alguns aspectos que considero interessantes.

A revista em questão foi censurada por “ser ofensiva à dignidade e à honra da mulher” e ficou somente poucas horas nas bancas. A principal causadora da proibição foi uma reportagem sobre parto normal.

A publicação trata ainda da superioridade da mulher e do corpo feminina. E apresenta testemunhos como “Eu me orgulho de ser mãe solteira” ou “Confissões de uma moça livre”.

A mãe solteira tem orgulho, mas não coragem de mostrar o rosto. Ela quer preservar a filha. A moça livre em questão é a atriz Itala Nandi. Na entrevista ousada, ela descreve e critica padrões morais existentes.

Segundo ela, “a única liberdade de que goza a mulher brasileira é escutar o homem, curvando a cabeça. Ela não participa de nada, não sabe de nada. E não porque não quer, mas porque não pode.”

Em outro trecho, menciona um diálogo com a mãe sobre uma possível gravidez: “Minha filha, que vergonha, que humilhação: imagine em Caxias do Sul, os amigos do seu pai, as suas amigas, receberem a notícia de que você teve um filho com um homem que não é seu marido?“.

Mas o ponto alto da edição é uma pesquisa realizada pelo Inese (instituto de pesquisa da época) com 1.200 mulheres.

Algumas perguntas e respostas continuam atuais. Outras se tornaram inconcebíveis. Por exemplo: “A senhora admite ter relações de amizade com pessoas desquitadas?”, “Acha justo casar sem amor só para reparar o mal?” ou “Uma mulher decente pode gostar de sexo?’’.

Um dado alarmante ou no mínimo curioso da pesquisa é o de que uma em cada quatro mulheres respondeu já ter provocado um aborto. Consequência talvez do preconceito contra as mães solteiras e do ainda pequeno uso de métodos anticoncepcionais. Segundo a pesquisa, caso a igreja permitisse, o número de mulheres que tomam pílulas dobraria.

Se algumas respostas são conservadoras, outras nem tanto. A grande maioria admite o aborto, como já mencionado, não considera a prostituição um crime e gostaria sim de ter estudado mais.

Não custa dizer que todos os jornalistas da revista eram homens. E que não dá pra invejar em nada a vida das nossas avós.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Um outro olhar

Eu costumo dar pelo menos uma olhada nos sites da Aljazeera principalmente e de outros veículos do mundo árabe para encontrar enfoques diferenciados sobre determinados assuntos.

Recentemente, li um artigo do Sami Moubayed, editor-chefe da Foward Magazine, da Síria, sobre o acordo entre o Brasil, a Turquia e o Irã.

O tema já está meio batido e agora deve sair um pouco da pauta, depois do ataque israelense à frota humanitária turca. De qualquer forma, vale a pena conhecer como a questão é tratada fora da nossa mídia ocidental.

Para o editor, o acordo é sim muito significante. Primeiro, porque reforça a influência de nações emergentes como o Brasil. Segundo, porque toda a discussão aconteceu independente dos Estados Unidos.

O artigo defende veementemente que os propósitos do enriquecimento do urânio pelo Irã são medicinais. E afirma que o problema do acordo ter sido mal visto foi, dentre outras coisas, a condução por um país latinoamericano, o que enfureceu o governo americano.

O sírio lembra um provérbio árabe para dizer que Brasil e Turquia queriam as uvas e não apenas brigar com o vigia. Ou seja, o principal foi alcançado.

Por fim, afirma que um país como o Irã, a décima sexta economia do mundo, não pode ser marginalizado por sanções. Os países centrais precisam ser fortes e capazes de enxergar a luz, conclui.

Sem culpa, sem drama, sem radicalismo...


Amamentar é ótimo e todo mundo está cansado de saber que o leite materno é o melhor. Mas nem todas as mulheres produzem quantidade de leite suficiente para amamentar o bebê. E não adianta dizer que quanto mais o bebê mamar, mais leite vai ter. Não foi assim comigo e nem com outras mães que conheço.

Por isso resolvi escrever sobre o assunto, já que o mundo está cheio de radicais da amamentação para encher as mães de culpa.

Na consulta de um mês do Tomás, descobri que ele estava ganhando menos peso do que deveria, apesar de mamar o tempo todo. Sim, eu dava de mamar pela manhã, à tarde, à noite e de madrugada, sem parar. Já estava ficando exausta e achando que ele era muito guloso. Na verdade, o leite era pouco.

Fiquei arrasada. Não me culpei por ter leite insuficiente, mas por saber que tinha deixado meu filho com fome. Depois passou. Conversei com outras mães e descobri que não fui a única e que é exatamente a pressão da amamentação exclusiva que faz com que muitas tenham problemas.

A pediatra orientou complementar com leite em pó e em uma semana ele recuperou o ganho de peso. Continuo dando o peito incansavelmente. Principalmente, porque as fórmulas causam prisão de ventre (agora acho que encontrei uma que causa menos problema) Mas às vezes depois da mamada ele fica irritado e só acalma com a mamadeira. Paciência!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Truculência desproporcional

As imagens do ataque a "flotilla" humanitária divulgadas por Israel com a intenção de justificar o injustificável apenas reforçam o caráter desproporcional da violência dos judeus contras os muçulmanos.

Os ativistas turcos e de mais 19 países foram acusados de serem terroristas internacionais. Vale lembrar, por exemplo, que lá estavam uma cineasta brasileira e um sobrevivente do Holocausto.

Segundo Israel, os ativistas atacaram com barras de ferro, estilingues e bolinhas de gude. Considerando que isto seja verdade, seria mesmo normal alguma reação de um grupo de pessoas num navio surpeendido por helicópteros e soldados armados com pistolas. E desde quando estilingue e bola de gude podem ser consideradas armas a não ser em brincadeiras infantis?

A luta é desigual, as armas e as reações também. Mesmo que desta vez a ONU tenha condenado a ação de Israel, ninguém pensou em incluí-lo no eixo do mal ou tratá-lo como risco à humanidade. E os Estados Unidos mais uma vez foram complascentes, como sempre acontece em relação a esse lado do conflito.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Os ingleses e a democracia

O que chama a atenção sobre as eleições inglesas, além da guinada conservadora, é o complexo sistema eleitoral. Assim como já vimos nos Estados Unidos (embora um seja presidencialista e o outro parlamentarista), na Inglaterra também é possível o candidato ganhar e não levar.

O conservador David Cameron, conseguiu o maior número de cadeiras no Parlamento, mas não chegou a ganhar. Levou graças a coalizão com o candidato do partido Liberal Democrata, Nick Clegg, terceiro colocado na disputa.

Se Clegg tivesse se unido aos Trabalhistas, estes continuariam no controle. A decisão de quem assumiria o poder saiu menos das urnas que do acordo político protagonizado por quem obteve menor votação.

Na definição mais simplista do termo, democracia é o poder do povo. Poder para governar de forma direta ou por meio de seus representantes.

Hoje, tem-se falado muito em crise do sistema representativo. Embora representação política não seja restrita ao ato de votar, o argumento é aceitável quando notamos que até nas democracias mais consolidadas do mundo, a escolha dos cidadãos não é assim tão onipotente.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Mulheres do Iraque

Comovente a matéria publicada no site da CNN sobre as punições contra as mulheres vítimas de tráfico humano no Iraque.

Uma delas é uma menina de 15 anos vendida pelo pai pra ser escrava sexual na Arábia Saudita. Ela conseguiu fugir, mas em vez de ser acolhida no país de origem foi presa por regressar com um passaporte falso.

Outro caso semelhante é o de uma jovem de 22 anos, que tentou processar o pai quando descobriu que seria vendida. O desfecho trágico: ela estuprada e ele morto. De vítima a culpada, hoje cumpre pena de 15 anos.

Mais que a cruel punição do Estado, essas meninas temem ainda as reações tribais e familiares, muitas vezes piores. Numa sociedade onde as mulheres são vítimas de todo tipo de exclusão, a mão mais feroz é exatamente aquela que deveria proteger.

Eu não defendo o determinismo cultural, mas também não me rendo a explicações simplistas de que a culpa é do Islã ou de que aquele povo do outro lado do mundo é mesmo primitivo.

A perversidade humana é maior do que podemos imaginar e independe de raça, credo ou país de origem. As leis islâmicas sobre as mulheres foram criadas para proteger e não para punir. É o caso do véu ou da poligamia masculina. Interpretações ahistóricas e descontextualizadas podem e tem levado sim a exclusão e submissão feminina em diversas sociedades.

Mas é bom lembrarmos que exclusão e submissão feminina não são exclusivas dos nossos irmãos do Oriente Médio. Lá ou aqui, as mulheres sofrem todo tipo de violência; com ou sem conivência do Estado, com ou sem a desculpa religiosa ou cultural. São relações históricas de dominação e subordinação que colocam as mulheres à margem. Isto também na nossa sociedade. Não foi, portanto, Maomé quem inventou.     
 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os primeiros dias..


O Tomás tem agora 12 dias de vida e dez que está em casa. Estamos adaptando a rotina e nos conhecendo melhor. As noites são animadas, com muitas mamadas e trocas de fraldas. Mas pela manhã ele dorme.

A amamamentação não deixa de ser um desafio. Durante a gravidez li quase tudo sobre gestação e recém-nascidos, mas confesso que tive preguiça dos tratados e manuais sobre amamentação. Acho que é exatamente a pressão que as mães sofrem para amamentar que acaba muitas vezes tornando doloroso o que deveria ser somente prazeroso.

Ouvi algumas orientções na maternidade, mas cada profissional disse uma coisa diferente. Então decidi que este era um problema meu e do Tomás. Aprendemos e resolvemos juntos.

Dei mamadeira sem culpa no segundo e no terceiro dia pra não deixá-lo com fome. Depois que o leite "desceu" não foi mais necessário e não atrapalhou em nada. Ele adora mamar no peito e eu adoro vê-lo com a boca cheia de leite.

O segredo foi só paciência, paciência e dedicação. Doeu, machucou, mas sem dramas e traumas. Se foi difícil pra mim, imagina pra ele. Só não posso dizer que gosto de acordar às 2h, 3h, 4h e 5h para as mamadas.

Já saí duas vezes sozinha e daqui a pouco sairei de novo. Confesso que me senti livre e feliz de andar sem barriga e sem o Tomás depois de tanto tempo. Sem nenhuma culpa, afinal ele ficou em ótimas mãos. Agora cada um é um, com seu corpo e sua individualidade, como tem que ser.          

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ele chegou


O Tomás nasceu, mineiríssimo, no dia 21 de abril. Quase marquei a cesárea, por indicação médica, mas meu coração mandou esperar mais um pouco pra ele mesmo decidir a data que queria nascer. Ele escolheu ser taurino e vir ao mundo no dia de Tiradentes, dos 25 anos da morte do Tancredo e dos 50 anos de Brasília.

Meu filho foi um presente desde o começo. Uma gravidez inesperada, mas tranquila e que logo se tornou muito desejada. Um parto cercado pelo amor do pai e dos avós. E uma paixão arrebatadora nestes primeiros dias.

Estamos enfrentando juntos o desafio da amamentação. Eu com paciëncia e perseverança e ele com muita disposição. O Tomás é cheio de saúde e mal chegou, mas parece que sempre fez parte da minha vida.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Minha xará Marina

Foto: Guilherme Dardanhan/Almg
  
Na última sexta (9/4), acompanhei a coletiva da Marina Silva, na Assembleia. Ela admitiu os avanços do governo Lula, mas afirmou que é preciso um novo modelo capaz de unir desenvolvimento e preservação. Eu admiro e respeito a Marina, mas confesso que prefiro os trabalhadores aos verdes.

Em dois momentos, a senadora demonstrou jogo de cintura. Primeiro, disse que o eleitor é livre e por isso o voto nela e no Anastasia é possível, independente das divisões do PV em Minas. Melhor que a resposta da Dilma. Depois, defendeu plebiscitos sobre aborto e legalização da maconha. Boa saída para quem é evangélica e contrária as duas agendas.  

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Está chegando a hora...

Hoje, a gravidez chegou a 37 semanas. Isto quer dizer que a partir de agora o Tomás já pode vir a este mundo. O curioso é que quando ainda não estava na hora ele queria nascer, mas agora que pode resolver ficar quietinho. Teimoso este menino!

Na última ultrassom, ele já estava com 2,8 kg e, num teste com nota de 0 a 8, tirou 8. Espero que repita o feito no vestibular. O meu espertinho também conseguiu tirar o cordão do pescoço.

Por ora, ele continua mexendo muito e engordando, e eu também.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Caminho para a democracia

Foto: El País

A vitória da oposição nas eleições iraquianas não chega a surpreender. Os resultados preliminares já apontavam uma diferença apertada entre os grupos de Iyad Allawi e do premier Nuri Al Maliki, indicando que nenhum alcançaria número suficiente de cadeiras no Parlamento para formar o fututro governo sozinho.

Os oposicionistas, do Movimento Nacional Iraquiano, conquistaram 91 das 325 cadeiras e o bloco do governo 89. 

Allawi é um xiita secular, que defende o Estado laico. Conseguiu atrair xiitas e sunitas, inclusive, remanescentes baathistas. Para montar a próxima coalizão, vai precisar ainda do apoio dos curdos e do atual governo. O que pode ser a verdadeira prova de fogo da nova democracia.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Boas-vindas

Estamos ansiosos com a chegada do Tomás. Esta noite, eu não dormi, nem o César. E o Tomás mexeu o tempo todo; às vezes parece um polvo. Pelo visto, ele também está com vontade de sair logo.

Por isso, hoje lhe desejamos as boas-vindas.

Boas-vindas
Caetano Veloso

Sua mãe e eu
Seu irmão e eu
E a mãe do seu irmão
Minha mãe e eu
Meus irmãos e eu
E os pais da sua mãe
E a irmã da sua mãe
Lhe damos as boas-vindas
Boas-vindas, boas-vindas
Venha conhecer a vida
Eu digo que ela é gostosa
Tem o sol e tem a lua
Tem o medo e tem a rosa
Eu digo que ela é gostosa
Tem a noite e tem o dia
A poesia e tem a prosa
Eu digo que ela é gostosa
Tem a morte e tem o amor
E tem o mote e tem a glosa
Eu digo que ela é gostosa
Eu digo que ela é gostosa
Sua mãe e eu
Seu irmão e eu
E o irmão da sua mãe

quarta-feira, 17 de março de 2010

Indefinição no Iraque


A coalizão que vai governar o Iraque quando da retirada das tropas americanas ainda parece longe de ser definida. Na última parcial, divulgada hoje (17/03), a oposição, liderada pelo ex-premier Ayad Allawi, passou na frente do primeiro-ministro Nouri Al Maliki.

A disputa é apertada e as acusações de fraude partem de todos os lados. Como eu já havia afirmado, o comparecimento eleitoral não pode ser apontado como único indicador de consolidação da democracia iraquiana.

Cerca de 6.200 candidatos de 80 grupos políticos disputam as 325 cadeiras do Parlamento. Seja qual for o resultado, vai ser necessário montar uma coalizão, acomodando interesses e facções diversas. O que pode ser bom para um país que precisa incluir as minorias para construir uma democracia.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Notícias do Tomás

Tenho algumas novidades. O Tomás mede agora 44 cm e pesa 2,4 kg. Bom, mas isso não quer dizer que ele já está pronto para nascer. Mesmo assim, o meu artilheiro apressadinho deu sinais de querer vir logo pra este mundo.

Bom, a médica recomendou repouso pra ver se conseguimos adiar um pouco mais o parto. Estou tentando, mas confesso que é difícil.

Esta é a 34a. semana e provavelmente ele não terá problemas se nascer agora, mas é melhor que espere até a 37a. Eu nasci de 36 semanas, com 2,6 kg. Vai ver ele puxou a mãe.

quarta-feira, 10 de março de 2010

As eleições iraquianas

Amanhã (11/3), deve sair a primeira parcial das eleições iraquianas realizadas no último domingo (7/3). Independente do resultado, o que está em cheque é a consolidação da democracia no país.

Os líderes mundiais consideram o comparecimento eleitoral de 62,4%, apesar dos atentados que deixaram 38 mortos, como sinônimo de sucesso eleitoral. Bom, o número é menor que o de 2005, quando 76% dos eleitores participaram da votação, mas esta não é a questão.

Penso que democracia não pode ser sinônimo apenas da escolha dos representantes por meio do voto. Até porque não adianta mudar a forma de escolha, se, na maioria das vezes, são as mesmas oligarquias que continuam no poder. E neste caso, não me refiro apenas ao Iraque. É preciso sim garantir mecanismos para incluir os grupos minoritários. O que vale especialmente para o Iraque, já que há sérias divisões entre xiitas, sunitas e curdos no país. Inclusão seria um bom começo para amenizar as diferenças.

Outra questão precisa ainda ser considerada. Proclamar o fortalecimento da democracia iraquiana é uma forma de legitimar a invasão americana de 2003. O preço pode ter sido muito alto. O que se espera é que com a retirada das tropas dos Estados Unidos, o Iraque volte a caminhar com as próprias pernas.

As eleições não marcam um fim, mas um começo. É o resultado das urnas que pode apontar para a formação de um governo capaz de acomodar grupos diversos e aliviar as tensões.

Músicas para o Tomás

Eu sempre ouvi dizer que crianças que escutam música ainda na barriga ficam mais inteligentes. Então, desde o início da gravidez resolvi me empenhar no futuro do meu pequeno gênio.

O Tomás escuta Mozart e Vivaldi (os mais indicados para aumentar o QI), Beatles para bebês, Villa-Lobos para crianças, Louis Armstrong na Disney e canções de ninar.

Outro dia estava lendo uma matéria da Pais e Filhos que confirmou a minha tese. E tem mais: além de estimular a inteligência, a música fortalece os laços entre a mãe e o bebê. Mas é bom evitar batidas fortes e repetitivas, que podem aumentar a ansiedade e o estresse.

Pelo visto, ainda vou ter que ouvir o variado repertório escolhido especialmente para o Tomás por um bom tempo e esperar um pouco mais até introduzi-lo no samba e no rock'n roll.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Celso Amorim e a Aljazeera

O Itamaraty endureceu o discurso ontem (3/3) com Hillary Clinton em relação à possibilidade de sanções ao Irã. Celso Amorim comparou a pressão americana contra o país à que antecedeu a invasão do Iraque em 2003.

Coincidentemente, li hoje no site da Aljazeera um artigo que acusa a mídia dos Estados Unidos de tratar a questão iraniana de forma semelhante à iraquiana.

Como costumamos ter maior acesso a essa abordagem ocidental, resolvi postar aqui alguns dos argumentos da agência árabe de notícias.

Segundo a Aljazeera, o Irã é cercado por potência nucleares, como Paquistão, Índia e Israel, mas apenas o programa persa está sendo questionado por autoridades e imprensa ocidentais.

A emissora argumenta também que o país é uma região relativamente pacífica do Oriente Médio, contrariando as alegações que colocam o Irã no centro do eixo do mal do terrorismo islâmico.

A forma como a mídia americana trata das eleições de junho, como fraudulentas, é comparada às acusações de que o Iraque possuiria armas de destruição em massa. Para a Aljazeera, o que motivou os protestos em Teerã foi o apoio da classe média urbana a Mousavi, enquanto os mais pobres deram votos a Ahmadinejad.

Por fim, o texto afirma que as mortes e destruições no Iraque deveriam ter ensinado uma dolorasa lição: acusar nações inimigas pode contribuir para um enorme sofrimento humano. E prega um tipo de jornalismo, como todos nós sabemos que deve ser: comprometido com os fatos, com justiça e objetividade.

Quem assina o artigo é o jornalista investigativo e escritor americano Robert Parry, ganhador do prêmio George Polk e autor de livros como Lost History: Contras, Cocaine, the Press & "Project Truth." (1999) e Secrecy & Privilege: Rise of the Bush Dynasty from Watergate to Iraq (2004).

terça-feira, 2 de março de 2010

Trajédia no Chile

Neste ano, que mal começou, já fomos surpreendidos com desastres naturais no Haiti, no Peru, na Europa, no Sudeste do Brasil e agora no Chile.

As cenas das trajédias sempre chocam e sensibilizam. Provavelmente, não vamos conseguir esquecer os sobreviventes sob os escombros pedindo ajuda diante das câmeras de TV em Porto Príncipe.

Mas quando as imagens são de lugares onde já estivemos, elas tocam mais profundamente. Senti assim quando acompanhei as matérias sobre o Katrina. Triste ver uma cidade que conheci tão vibrante marcada pela morte e destruição. E me comovo com o acontece no Chile agora, onde passamos bons momentos em agosto passado.

Foi uma viagem de lua-de-mel, a nossa primeira internacional juntos, e, pelas minhas contas, o Tomás deve ter sido feito por lá. O país tem aquele quê de Europa que nós brasileiros adoramos. Frio, vinho, arquitetura antiga e possibilidade de esquiar. Mas o aspecto de primeiro mundo vem também de uma sensação de que as coisas funcionam. E é verdade. O Chile tem alguns do melhores indicadores da América do Sul e o metrô de Santiago é maior que o de São Paulo e que o do Rio.

A única lembrança ruim é dos taxistas que dão um jeitinho de roubar nas corridas. Diante do caos, que não prevaleça esse jeitinho, mas sim o Estado que funciona.

Caras e bocas do Tomás I

Cada ultrassom é uma surpresa, por isso já não vejo a hora de fazer a próxima, no dia 10 de março. Estarei com 33 semanas de gestação e espero que ele já pese perto de dois quilos, afinal eu sinto como se carregasse uns dez.

Na primeira ultrassom, ele era só uma ervilha. Depois virou um microserzinho de 2,7 cm, com um coração que bate forte. Com 13 semanas, ele deu um show. Pulou, deu tchau, colocou o dedo na boca. Será que vai trabalhar em televisão?

Foi na ultrassom de 17 semanas, que soubemos que era menino, com um pinto de 1,4 cm. Sim, eu pedi pro médico medir. Desde o começo, eu sentia que seria um menino e brincava dizendo o Tomás está com fome, o Tomás está com sono... Então, quando tivemos certeza nem tinha mais como pensar em outro nome.

Mas a ultrassom 3d é, sem dúvidas, a mais especial, pois dá pra ver a carinha dele. Eu o achei mais parecido comigo do que com o César. E espero que ele melhore até os 18 anos.
Os closes aí embaixo são deste menino já cheio de charme.

Caras e bocas do Tomás II








quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mil dias antes de te conhecer...

Valsa brasileira é a música de hoje.
http://www.youtube.com/watch?v=ayS557Dk9wg&feature=related

Como a vida pode mudar tanto em um ano?

É a pergunta que me vem à cabeça hoje.

Em um pouco mais de um ano, eu mudei de cidade, de emprego, casei , defendi a dissertação de mestrado e agora aguardo a chegada do Tomás. Este pequeno nem nasceu e já embaralhou a minha vida!

Em um ano, eu e o César nos apaixonamos, nos conhecemos melhor, juntamos os livros e CDs, mudamos de casa e construímos uma família. Se eu já acreditava nas surpresas da vida, agora tenho absoluta certeza de que não podemos duvidar delas.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Aquele dia 25...

Eu sempre achei que gravidez era coisa que só acontecia com os outros. Até aquele dia 25...
Fui à farmácia comprar o anticoncepcional, mas acabei levando um teste pra saber se estava grávida. É claro que daria negativo. Bom, mas não deu.

Era 25 de agosto, aniversário de seis meses de namoro. Desde que a gente começou a sair, o vigésimo quinto dia do mês havia se transformado numa data importante. Mas aquele dia 25, a gente nunca vai esquecer.

Depois do teste comecei a ligar pro César vir logo pra casa. Ele imaginou que seria recebido com vinho e jantar, como das outras vezes. Nada disso. Ele entrou e eu continuei sentada no sofá. Sem saber como contar, despejei um monte de informações domésticas: acabou o pão, a conta de telefone está em cima da mesa, fiz um teste de gravidez e deu positivo, tenho que entrar mais cedo na TV amanhã, etc. Demorou alguns segundos até ele perguntar: como assim, teste de gravidez?

De cara, ele aceitou melhor do que eu... talvez porque já teve duas filhas e também por não ter que carregar uma barriga por nove meses. Depois de choro e desespero, fiz o teste de laboratório no dia seguinte. Deu gravidíssima. O resultado positivo é acima de 50, o meu deu 639. Repeti dois dias depois e deu 7.600. Ou eu estava mesmo grávida ou com câncer no útero, segundo o Dr. Google. Ainda assim achava mais fácil a segunda opção. Só acreditei quando fiz uma ultrassom. O meu filho parecia uma ervilha, mas me conquistou naquele momento.

O que veio depois, eu vou contando nas próximas postagens.

Homenagem à mãe e ao Torquato

O nome do blog tem tudo a ver com este meu momento grávida, já consciente de que filho nasce pro mundo. É também uma homenagem ao poeta piauiense, que pouca gente conhece, porém todo mundo já cantou algum dia. Ele falou da mãe, mas foi o nome do filho que escreveu no bilhete de despedida, quando nos deixou cedo demais.

A música é ainda um pedaço da minha vida - coisa de gente que sempre quis ir embora, mesmo sem saber pra onde. E uma homenagem a minha própria mãe. Tão forte nas constantes despedidas.

Mamãe coragem na voz da Gal