Em Buenos Aires

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Buenos Aires sem gasolina

Na semana passada, não tinha dinheiro nos caixas eletrônicos em Buenos Aires. Desde ontem, falta gasolina. Panelaço de madame de Palermo e Recoleta chama a atenção, rende belas imagens, mas quem tem força pra parar um país é protesto de trabalhador.

O Sindicato dos Caminhoneiros também ameaça cortar a distribuição de alimentos, a coleta de lixo, os correios e colocar 100 mil pessoas e 10 mil caminhões na Praça de Maio. Na noite de ontem, os trabalhadores fecharam a saída da refinaria da YPF pra impedir a saída de caminhões. No embate, o governo mandou a polícia e conseguiu que oito caminhões saíssem com combustível, mas os sindicalistas deram o troco fechando os portões com o lixo coletado na cidade.

A reivindicação é por aumento salarial, claro, por correção da tabela do imposto de renda e por inclusão nos programas sociais do governo. Mas é também uma quebra de braço entre o presidente da central dos trabalhadores, Hugo Moyano, e a presidente Cristina Kirchner.

O sindicalista, que já foi aliado incondicional do kirchnerismo, andou perdendo espaço na relação com o governo e corre o risco de perder a eleição para a presidência da central. Para demonstrar força, colocou o time dele (que são os caminhoneiros) em campo. A presidente antecipou a volta da Rio +20.

Os jornais estão comparando o embate com um divórcio e, ao que parece, em que os dois lados sairão perdendo. Como o inverno começou nesta madrugada, junto com o paro dos caminhoneiros, o César lembrou nesta manhã da famosa citação de Shakespeare na peça Ricardo III: "o inverno do descontentamento."

Foto do site iprofesional.com


sábado, 16 de junho de 2012

Vinícius nasceu!



Meu primeiro sobrinho e o primeiro primo do Tomás. Agora sim, já podemos ir pra casa da vovó. Quando alguém perguntava ao Tomás quando ele iria pra casa da vovó, a resposta era "quando o Ícius nascer".

O Vinícius nasceu hoje, às 13h50, com 50 cm e 3,16 kg. Já estamos loucos pra conhecê-lo.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O primeiro panelaço a gente nunca esquece


Há muitos anos, eu morava nos Estados Unidos e fiz um trabalho sobre a crise argentina de 2001. Fiquei dias assistindo fitas e selecionando imagens para uma matéria. Aquelas cenas dos panelaços nunca saíram da minha cabeça. Ficaram como a maior marca do corrallito argentino.

A vida deu muitas voltas e eu acabei vindo morar em Buenos Aires. Cheguei num momento de certa calmaria. O país, dez anos depois da crise, tinha taxas históricas de crescimento. Inflação alta, com índices manipulados pelo governo, mas com consumo também em alta. Ou seja, se a renda acompanha a inflação, não incomoda tanto. E a prova de que tudo ia bem foi a votação também histórica da presidente Cristina Kirchner, com mais de 54% dos votos.

Na época da campanha, os analistas falavam muito que Cristina representava um certo “frescor” em relação ao marido e antecessor Nestor Kirchner, criticado por medidas autoritárias. E apostavam num segundo mandato mais alinhado com o mercado financeiro.  O que aconteceu foi exatamente o contrário. O segundo governo de Cristina aposta no nacionalismo e está cada vez mais fechado.

A economia começa a não ir tão bem. Claro, que os fatores externos não ajudam. Mas medidas de restrição às importações e à compra de dólares começam a incomodar os argentinos. Diga-se, os argentinos de classe média.

Eu, que nem sou argentina, estou ampliando meus conhecimentos de macroeconomia. Não só porque escrevo sobre o assunto de vez em quando, mas porque inflação e câmbio nos afetam diretamente. Aprendi a me preocupar diariamente com a variação do dólar no Brasil e na Argentina. E também estou me aprimorando em economia doméstica para lidar com os aumentos dos preços e com a falta de alguns produtos no supermercado.

Ontem, presenciei meu primeiro panelaço ou cacerolazo argentino. Voltava do shopping com o Tomás e as pessoas nas ruas batiam panelas, palmas, buzinavam.  Fiquei uns dois minutos em dúvida sobre o que seria. Se comemoravam a vitória de algum time ou se o semáfaro estava com defeito. Mas logo tive certeza de que tratava-se de um protesto. Perguntei ao porteiro do meu prédio e ele respondeu: “es la revolucion”.

O panelaço foi organizado pelas redes sociais e aconteceu na área mais nobre de Buenos Aires, em Palermo, Recoleta e Belgrano – exatamente os únicos bairros da capital onde Cristina perdeu nas eleições. Difícil, portanto, afirmar que há um clima de insatisfação geral. Os manifestantes reclamavam da insegurança, problemas econômicos e restrição à compra de dólares. Este último parece ser o principal motivo.

Aqui, é comum economizar em dólares, guardando o dinheiro em casa mesmo, comprar e alugar imóveis em dólar. O governo ao restringir a compra fez a moeda estrangeira disparar no mercado negro ou “blue”, como chamam aqui. Já ouvi mais de uma vez na rua, “estamos virando a Venezuela”.

Se é verdade ou não, só o tempo dirá. E, provavelmente, outros panelaços virão. O certo é que eu não vou esquecer meu primeiro cacerolazo argentino.