Em Buenos Aires

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Não se pode duvidar da força de um povo

Quem duvidava da força e do poder de transformação do povo árabe deve ter se surpreendido nos últimos dias. Primeiro, os tunísios derrubaram uma ditadura de 23 anos. Depois, foram os egípcios que colocaram um ponto final no governo de 30 anos de Mubarak.

Quando os protestos do Egito começaram, especulava-se que haveria uma virada islãmica, ou seja, a tão "temida" Irmandade Mulçumana acabaria tomando o poder. É uma dicotomia simplista que coloca de um lado ditaduras seculares e de outro radicais islâmicos usada por nós ocidentais para sustentar governos ditatoriais como o de Mubarak.

Não foi bem o que aconteceu. E, ao contrário, do que se podia esperar, os egípcios não desmobilizaram, não cederam às promessas de aumento nem à repressão. Ao final, ainda deram um exemplo de cidadania limpando as ruas.

Eu que sempre sou otimista continuo acreditando numa transição democrática. Os militares não ousariam contrariar a vontade do povo (acho).

Agora novos protestos eclodem ou continuam na Líbia, Iêmen, Bahrein, Marrocos. É a voz do povo árabe gritando para ser ouvida. É o esforço de um povo para ser protagonista da sua história sem interferências externas para decidir por este ou aquele regime.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Porque o mundo não é mais o mesmo...

E será que alguém duvida disso?

Os recentes protestos em países árabes revelaram mais que o descontentamento com regimes autoritários. Expuseram ao mundo o uso que as massas podem fazer das redes sociais.

Muito antes da mídia tradicional se interessar e mostrar a onda de revolta na Tunísia - que culminou na queda de um presidente no poder há 23 anos -, cidadãos comuns noticiavam os acontecimentos via twitter, facebook e youtube.

O movimento contagiou os internautas egípicios que organizaram uma comunidade de mais de 90 mil pessoas no facebook. Lá, os protestos que já colocaram 1 milhão nas ruas começaram online. E foi possível assistir ao vivo transmissões por celular feitas por cidadãos comuns.

O governo chegou a proibir a internet no país, mas o google liberou um canal para envio de tuítes por telefone.

São novas formas de mobilização que tomam corpo, mas também a ocupação de um espaço - antes exclusivo dos meios de massa - pelas redes sociais.

Quando ainda se usavam as expressões primeiro, segundo e terceiro, era comum a defesa por parte de estudiosos da comunicação de uma produção regionalizada da informação, ou seja, a chance do terceiro mundo ter voz própria.

Alguns autores chamavam as agências internacionais de notícia de empresas transnacionais, que determinavam o que deveria ser considerado notícia. O resultado, para esses autores, era uma homogeneização da informação a partir de empresas localizadas em regiões centrais do mundo.

O discurso podia ser considerado, portanto, pela ótica do que Iris Marion Young denomina imperialismo cultural.

Para a autora, o conceito implica na universalização da experiência e da cultura de um grupo dominante e na imposição dessas como normas. Os grupos dominantes projetam suas próprias experiências como representativas da humanidade como um todo e, assim, reforçam sua posição ao submeter os outros grupos aos critérios de suas normas dominantes.

Mas hoje, tal discussão parece perder o sentido. Qualquer cidadão comum tem o poder de disserminar a informação, escrever no twitter, no facebook, postar vídeos, fotos na internet.

Não existe mais um mundo que interessa ao noticiário ou não, nem um discurso dominante ou não, se pensarmos que a informação é disseminada de tal forma, que mesmo as grandes agências ou redes de comunicação fazem uso do que os internautas divulgam.

Estamos diante de uma nova forma de pensar o mundo e fazer jornalismo. E precisamos estar preparados para não ignorar o que acontece bem na frente dos nossos olhos: na tela do computador.