Em Buenos Aires

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Aqui e lá

Alguns aspectos comuns da eleição brasileira e da eleição de meio mandato americana me fizeram escrever este post. Aqui e lá, aconteceu, sem dúvida, uma guinada à direita no debate.

Lá, a culpa é da economia. A incapacidade de reação do governo Obama frente à crise (lá muito maior que a marolinha daqui) fez com que parte do eleitorado que depositou esperança no democrata migrasse para os candidatos republicanos, abrindo espaço para uma agenda conservadora.

E é no Tea Party, principalmente, que essa agenda encontra lugar. O movimento, ala do Partido Republicano, surgiu contra as reformas no sistema de saúde promovidas por Obama, mas defende também bandeiras como expulsão de imigrantes e fim da seguridade social. Corte de gastos público chega a ser desnecessário citar.

O movimento vai mais longe. É contrário à inclusão de negros e minorias, ao aborto e aos direitos civis dos homossexuais. Uma das principais líderes, a candidata a vice-presidente derrotada na chapa de McCain Sarah Palin se apropria do discurso religioso para colocar na agenda pública assuntos proibição do sexo fora do casamento.
 
Segundo o New York Times, o Tea Party tem o apoio de quatro em cada dez eleitores que foram às urnas. Não à toa, o recente movimento conseguiu emplacar sete senadores. Resultado baseado na instabilidade econômica, mas também na forma de atuação da ala republicana radical.

Os membros do Tea Party promovem, por exemplo, treinamento sobre como atrair eleitores. Algumas das dicas são abordar pessoas com crianças, cachorro ou quem tem a bandeira do país em casa.

Os pilares tradição, família e religião que amparam o conservadorismo do Tea Party também estiveram presentes na corrida presidencial brasileira. Num determinado momento da disputa foi a discussão religiosa que pautou o debate e prevaleceu em detrimento da agenda política.

O discurso conservador colocado na campanha significou, inclusive, retrocessos que não serão reparados nos próximos anos. Depois do resultado da eleição, até menções preconceituosas em relação a nordestinos e sectarimos foram colocados. Mas também é importante considerar os avanços.

Nos EUA, os republicanos cresceram em número de cadeiras no Parlamento, mas não pelo discurso conservador. O que preocupa mesmo os americanos no momento é o bolso.

Aqui, elegemos uma mulher, que não ganhou por ser mulher, mas se lembrarmos que há algumas décadas as mulheres nem votavam, este é sim um importante avanço.

Outro, sendo aqui mais otimista e adotando um enfoque pós-habermasiano, é que o simples fato de certos assuntos serem colocados na esfera pública faz com esses assuntos existem.

Se a discussão sobre o aborto, por um lado, trouxe retrocessos, por outro, passou a existir. É assim que se fortalece uma democracia. E a nossa por sinal chegou aos 21 anos. Idade pra amadurecer.