Em Buenos Aires

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sou a favor do aborto, da união homossexual e dos direitos das minorias

Eu jurei que não queria escrever sobre o debate religioso nesta eleição. Primeiro, porque acho que tudo que podia ser dito ou escrito já foi. Segundo porque considero o assunto absurdo a ponto de não merecer comentário. Mas diante da perplexidade que me causam algumas informações que ando lendo por aí, não consegui calar.

Quando o discurso moral e as crenças religiosas se sobrepõem à agenda política é a democracia que sai enfraquecida. E não é a primeira vez que isto ocorre. Foram usados contra Getúlio Vargas, a favor da ditadura e pelos seguidores de Sarah Palin, recentemente, nos Estados Unidos.

Vivemos num Estado laico e esperamos continuar vivendo. Porque no dia que os excessos religiosos passarem a dominar o Brasil, vamos nos assemelhar a países como o Irã ou a Arábia Saudita.

É função do Estado garantir os direitos individuais. E os direitos de mulheres (que abortem ou não), homossexuais, negros, prostitutas, não podem ser maiores nem menores que os de católicos ou evangélicos. O Estado garante inclusive o direito à crença.

Agora, fé é uma coisa, agenda política é outra. Não é possível defender que casamento e união civil são a mesma coisa. Nem fechar os olhos para as milhares de mulheres que morrem em função de abortos clandestinos. E mais: aborto é também uma questão de cidadania. As mulheres só estarão em situação de igualdade com os homens quando exercerem o poder sobre o próprio corpo.

O debate desvirtuado que vem sendo colocado revela uma guinada super à direita. E eu tenho defendido que os conceitos de direita e esquerda deixaram de ter recorte apenas econômico. Hoje, estão mais relacionados a direitos das minorias. A campanha é uma prova. Por isso, com certeza quem sai perdendo são os movimentos sociais, de feministas, homossexuais e de outros grupos organizados da sociedade.

Mas esta campanha é também a contraposição de dois projetos. Um neoliberal e outro social. Leonardo Boff escreveu um artigo sobre o assunto e conclamou a união de dilmistas e marineiros por um projeto social. Porque o do Serra é sem dúvida neoliberal.

Outro representante da Igreja católica, Dom Aldo Pagotto, postou no youtube um vídeo pedindo votos para o tucano. Vale lembrar que ele é sabidamente ultraconservador e foi acusado de acobertar casos de pedofilia quando bispo de Sobral. Portanto ,entre este e aquele, parte de uma Igreja que tinha opção preferencial pelos pobres, fico com aquele.

Voto Dilma, sou a favor do aborto, da união civil dos homossexuais e dos direitos das minorias. Sou a favor da inclusão social num país que durante séculos esqueceu dos mais pobres. E sou a favor da liberdade de imprensa. Porque o Lula pode até reclamar, mas não é ele que costuma destratar nem pedir cabeça de jornalista por aí.