Em Buenos Aires

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Um coração partido e mais um ciclo que se fecha

Hoje foi o último dia de aula do Tomás e amanhã será a festinha de encerramento. Eu já chorei na última reunião, na despedida das “maestras” e dos amiguinhos e amanhã vou derramar mais algumas lágrimas de emoção. Não tenho a menor vergonha de assumir que junto com o Tomás nasceu uma mãe e uma chorona.

Nestes últimos dias, eu vou revivendo alguns momentos, tentando guardar outros na memória e tentando prolongar outros ao máximo. O tempo passa muito rápido e, com filho pequeno e tantas mudanças de cidade e país, isso fica ainda mais claro. Os meus três últimos anos foram doces, doces... E é por isso, que o fim da escola mexe tanto comigo.

Não é só porque a gente vai embora da Argentina, vai começar outra vez em outra cidade, nem porque eu gostava tanto da escola. Mas porque é o fim de um ciclo e de um período muito gostoso da vida do meu filho. Quando chegamos aqui, ele era um bebê e agora já é quase um menino grande, como ele gosta de dizer.

Lembro da primeira vez que o deixei na escola. Ele ficou chorando. Tudo tão diferente das creches que estamos acostumados no Brasil, com outros hábitos e outra língua. Mas o deixei, mesmo me achando meio maluca. E hoje vejo que foi a melhor coisa que fiz.

Foram tantos lindos momentos. De levá-lo e buscá-lo, conversando e cantando pelo caminho, ouvindo as primeiras palavras em espanhol, depois as duas línguas cada vez mais misturadas e separadas. De festinhas, de passeios na praça depois da aula. De casas de amigos e amigos em casa.   

Tantas canções em espanhol que nunca aprendi a cantar direito, um “auto de papá” e “um chino capuchino”. Fizemos brigadeiro na escola e levamos pão de queijo. Aprendi que um pentagrama é “uma coisa de clave de sol”, que uma antologia “é um livros com cuentos e poesias” e que a Frida Khalo fazia auto-retrato.  

E um dia o Tomás chegou falando de um Gugaglim. Perguntei quem era e descobri que é um senhor que fez uma pintura chamado o beijo. Eu adoro Gustav Klimt e fiquei encantada. Uma escola que ensina Gustav Klimt e Frida Khalo é mesmo pra me fazer chorar.

Então aguenta coração, porque amanhã tem mais emoções. 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Crescendo em duas (ou mais) línguas

Eu confesso que já me recomendaram várias leituras sobre crianças bilíngues e nunca parei pra ler com calma ou realmente pensar sobre isto. Sempre achei que seria bom para o Tomás aprender dois idiomas ao mesmo tempo.

Do pouco que tive conhecimento, crianças bilíngues demoram um pouco mais a falar. Outro dia, conheci uma especialista em linguística e mãe de criança bilíngue que me confirmou esta informação, mas achou que o Tomás fugia um pouco à regra. Porque ele fala muito e bem tanto em português como em espanhol.

Apesar do contato com os dois idiomas, o Tomás começou a falar cedo, mas misturava muito. Formulava frases como "eu quero jugo" ou "no me gusta este brinquedo". Com o tempo, aprendeu a diferenciar e até traduzir, embora ainda solte um "está caliente" de vez em quando. E aqui em casa biscoito sempre foi galletita e sobremesa, postre.

Das coisas mais lindas que já ouvi na minha vida é o Tomás me chamar de mamita. Embora também diga mamãe e mãe. Também adoro escutá-lo dizer "yo solito", quando quer fazer alguma coisa sozinho.

Cada vez mais, ele está aprendendo a diferenciar e só fala português comigo e com o pai (e quando está no Brasil ou com amigos nossos brasileiros, claro). Ele até me ajuda com o espanhol. Quando não sei uma palavra pergunto pra ele. Acho que ele pensa mais em espanhol, porque é a língua escolhida para falar sozinho e nas brincadeiras. Mas é normal, afinal, a maior parte do mundo dele -escola, amigos, televisão -, é em espanhol.

Só que agora apareceu o inglês. O Tomás tem aula de inglês todos os dias na escola e como já entende há algum tempo que existem diferentes idiomas, tem muita curiosidade. Chega da escola e me pergunta "how are you today?", conta e fala as cores em inglês (já fazia antes porque eu ensinei) e o tempo todo quer saber como é tal palavra em inglês. Pede para ver os desenhos em inglês e inventa palavras também. No dia do aniversário, pediu parabéns em inglês.

Minha mãe diz que ele vai ficar confuso com tanta informação, mas eu acho que ele é privilegiado. E nós também que estamos proporcionando o aprendizado sem arcar com o custo de uma escola bilíngue.

No próximo ano, voltamos ao Brasil e é bem possível que ele esqueça o espanhol, porque terá apenas quatro anos. Mas eu pretendo me esforçar para que isso não aconteça. Talvez seja a hora de ler e pesquisar sobre o assunto. De qualquer forma, acho que a semente está plantada e, no mínimo, ele terá facilidade para aprender idiomas no futuro. Tomara que sim.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Museu argentino é dedicado ao fantoche

Em Buenos Aires, tem museus pra todos os gostos. Desde os mais convencionais de arte a museus modernos e interativos, além de muitos temáticos - dedicados por exemplo ao cinema, à literatura, arquitetura, tango, futebol.

Há alguns dias, visitamos um que ainda não conhecíamos. O Museu Argentino del Títere ou do fantoche. O lugar é bem interessante, com mais de 600 fantoches de diferentes épocas e países do mundo. Nos fins de semana, também oferece apresentação de fantoches.

Assistimos a história de um pirata que chega para roubar as riquezas dos índios. Ao contrário do que aconteceu na vida real, a história tem um final feliz e os índios são os vencedores.

A apresentação me trouxe boas lembranças da minha infância. No Ceará, há (ou pelo menos havia) uma forte cultura de teatro de fantoches. Por isso, tem até uma expressão muito popular (usada com os mais variados sentidos) que é "botar boneco".

Eu não diria que vale a pena se deslocar de outra parte da cidade só para visitar o museu, pois, apesar de ser interessante, é pequeno. Mas fica bem perto da Feira de Antiguidades de San Telmo, parada quase obrigatória de quem visita Buenos Aires. Então, por que não dar uma passada ali depois da feira?Principalmente, pra quem admira a arte ou viaja com criança.

A entrada é gratuita, o ingresso só é cobrado para as apresentações.


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Comemorando os três anos do Tomás

A comemoração dos três anos do Tomás não foi em Buenos Aires, mas em Fortaleza, onde vive minha família e muitos amigos. E para marcar uma data tão especial (a primeira vez que festejamos o aniversário do Tomás lá) decidimos fazer uma festinha bem a cara dele. Ao ar livre, com piquenique, brincadeiras e contação de histórias; tudo que ele gosta.

O tema escolhido foi a história dos três porquinhos, que o Tomás adora e pede pra ouvir todas as noites antes de dormir. Ele ficou fascinado ao ver as casinhas de palha, madeira e tijolo, os cartazes do lobo sendo procurado, os amiguinhos com chapéu e nariz de porquinho.

A ideia era uma comemoração descontraída e que pais e crianças pudessem aproveitar juntos. Acho que conseguimos. Na hora da contação de histórias, o grupo Encantos conseguiu prender até a atenção dos adultos. Quando contaram a história dos porquinhos, o Tomás gritou animado: esta é a historinha que o papai e a mamãe contam.

Um dos programas preferidos do Tomás é fazer piquenique. Ele adorou sentar nas toalhas no chão e brincar com as cestas de frutas. Mas quando viu a cestinha disse: esta não é do porquinho, é da vovó da chapeuzinho. Depois encontrou uma maçã da branca de neve.

Quando terminamos de cantar os parabéns, o Tomás pediu: agora em inglês. Eu não me perdoo por não ter filmado este momento. Todos cantaram à pedido dele happy birthday to you (preciso escrever um posto sobre criança bilíngue, ou melhor, quase trilíngue). A lembrancinha foi uma caixa com dedoches ou títeres de dedo, como o Tomás fala em espanhol, dos porquinhos e do lobo.

O local escolhido foi o jardim da Casa José de Alencar, onde nasceu o escritor e é umas das atrações turísticas de Fortaleza. O lugar é lindo, com muitas árvores e espaço para as crianças.

Para montar uma festa com a cara do Tomás e à distância, eu contei com a ajuda da empresa Dona Coruja, cuja proposta é exatamente organizar festas voltadas mais para o lúdico e menos para o consumo. A escolha não poderia ser melhor. Eles conseguiram colocar em prática (e até superar) tudo que pensei.

Fiquei tão feliz, que até parecia criança, por isso decidi compartilhar com vocês.








 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Sem fralda e com muita atitude

Como sempre, quem decide é ele. Quando eu penso em ir, o Tomás já está voltando. E assim foi com a fralda.

No ano passado, comecei a incentivá-lo a usar ao banheiro, deixá-lo mais tempo em casa sem fralda. Ele estava quase chegando lá, mas a gente viajou de férias, depois de recesso, mudamos toda a rotina. Entre indas e vindas, foram quase dois meses fora. E na volta, ele não queria ficar sem fralda.

A minha inexperiência começou a me deixar angustiada. Sabia que era cedo, não podia forçá-lo, mas o frio estava chegando e seria muito mais complicado. Comecei tudo de novo, tentei motivá-lo com cuecas novas, livrinhos e um quadro para colar estrelinhas cada vez que fosse ao banheiro.

A estratégia funcionou, mas começaram as aulas, com sala nova, professoras e amiguinhos novos e eu achei que precisava dar um tempo, para não fazê-lo passar por mais de uma mudança de um só vez (e ele já passou por tantas!). Continuei em casa, meio como uma brincadeira e não avisei nada na escola. Até que a professora me chamou e falou: o Tomás pediu várias vezes para ir ao banheiro hoje e disse que não vai mais usar fralda.

Ele decidiu que era hora e era hora. No dia seguinte, foi pra escola sem fralda, passou o dia todo e não precisou trocar de roupa nenhuma vez. E no outro dia também e assim por diante.

Foi muito, mas muito mais fácil do que eu pensava. Se tem uma característica que é marcante na personalidade do Tomás é a decisão. Quando ele quer, quer, quando não quer, é difícil fazê-lo mudar de ideia. Dizem que os taurinos são teimosos e ele me faz acreditar nisso.

Agora decidiu que não leva mais a chupeta pra escola. Dorme lá depois do almoço sem chupeta. E olhem que ele é muito viciado na chupeta. Mas agora só para dormir e em casa. Pelo visto, também vai ser mais fácil superar esta etapa do que eu pensei. É só esperar que ele decida quando vai ser.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Mais do Papa Francisco

Matérias publicadas no Diário do Nordeste


40 mil veem cerimônia na Catedral

20.03.2013

Argentinos que fizeram vigília em frente à igreja onde Bergoglio rezava missas receberam telefonema do papa

Surpresa e emoção marcaram madrugada dos fiéis que foram ao local acompanhar a missa inaugural do pontificado do argentino foto; Reuters

Buenos Aires. Com os olhos grudados nos telões instalados na Praça de Maio em frente à Catedral de Buenos Aires, cerca de 40 mil fiéis acompanharam a cerimônia de entronização do papa Francisco no Vaticano. Jovens, idosos, crianças, famílias inteiras demonstravam o orgulho de ter um papa argentino e próximo dos humildes.

Às 5h da manhã, quando o papa Francisco entrava para a cerimônia, fiéis rezaram a oração de São Francisco e cantaram o hino do Vaticano. Foram distribuídos ramos de oliva - numa alusão ao domingo de ramos - retirados de uma oliveira plantada por ele ao lado da Catedral.

Rafael Cabral, 26 anos, assistia emocionado com um galho nas mãos. "Ele lavou os meus pés e mudou a minha vida. Ninguém nunca foi capaz de um gesto assim por mim", conta. O jovem está há seis meses num centro de reabilitação da Igreja. Voltou a estudar e a acreditar.

O dia começava a clarear quando Jorge Bergoglio recebeu o anel do pescador e o pálio - símbolos da autoridade papal - e rezou a homilia. O papa lembrou que é preciso "acolher com afeto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, (...) quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão".

A homilia que também destacou a missão de São José - santo do dia e padroeiro do Ceará - reforça a ideia de uma aproximação da Igreja com os fiéis. Nem o frio de 18 graus nem a garoa de véspera de outono em Buenos Aires desanimou os presentes, que começaram a chegar ainda durante a noite do dia 18, carregando bandeiras do Vaticano e da Argentina.

"Estou cansado, mas esta é uma oportunidade única", dizia o estudante Juan Martin, 16 anos, que segurava um cartaz com a frase: "Com o papa Francisco, a Juventude volta com força à Igreja".

Surpresa

A noite de vigília, oração e música foi marcada também por uma surpresa: um telefonema do Papa. Jorge Bergoglio ligou de Roma para o celular do reitor da Catedral, Alejandro Russo, às 3h30 em Buenos Aires, e a chamada foi conectada aos alto-falantes da Praça para que fiéis pudessem ouvir a mensagem.

O papa começou agradecendo as preces. Em seguida, pediu aos fiés para deixarem de lado os ódios e não temerem à Deus, que sempre perdoa. "Que não exista ódio, nem brigas. Deixem de lado a inveja e ´não arranquem o couro de ninguém´; dialoguem, cresçam no coração e se acerquem de Deus", disse.

Mais uma vez, pediu que rezassem por ele: "Por favor, não se esqueçam deste bispo, que está longe, mas ama muito vocês". Antes de desligar, abençoou os presentes, que aplaudiam e gritavam de emoção.

"Eu chorei junto à imagem da virgem de Lujan. Era como um pai falando com os seus filhos. Senti que ele estava próximo, como sempre esteve. É o papa, mas continua sendo o nosso Jorge Bergoglio" contou orgulhosa a missionária Carmen Savala, que trabalha como cozinheira na Paróquia de Santa Elisa, no bairro Barracas. "Ele sempre nos dizia para sair e ajudar as pessoas", acrescentou.
MARINA MOTA
ESPECIAL PARA INTERNACIONAL

ILHAS MALVINAS

Francisco não deve se envolver

20.03.2013
Buenos Aires. A presidente Cristina Kirchner, na conversa que manteve com o papa Francisco na última segunda-feira, fez o convite formal para que ele venha à Argentina em julho, por ocasião da visita que fará ao Brasil durante a Jornada Mundial da Juventude. A amabilidade entre os chefes dos Estados Argentino e o do Vaticano chama a atenção de quem conhece o histórico de conflito entre os dois.

"Cristina está tentando tirar algum proveito da popularidade do papa. Criticá-lo agora seria suicida", analisa o cientista político Marcos Novaro, do Centro de Investigações Políticas (Cipol).

Malvinas

Um dos pedidos de Cristina ao papa foi a mediação na disputa com a Inglaterra pelas Ilhas Malvinas. Mas Novaro não acredita que o papa atenda a reivindicação. "Ele é um político habilidoso e não vai se meter nesta confusão", disse.

No ano passado, o então cardeal Bergoglio realizou uma missa pelas Malvinas e afirmou: "Quantas cicatrizes, quantas famílias destruídas pela ausência definitiva ou por um retorno truncado. A pátria tem que se lembrar de todos eles".

Qualquer coincidência da declaração dele com a agenda política do governo argentino se encerra aí. Temas como direitos civis e de minorias são prioritários na pauta de Cristina. No Congresso Argentino, tramita um projeto de novo código civil e, em 2012, foram aprovadas leis garantindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a mudança de gênero.

Enquanto cardeal, Bergoglio foi muito crítico a estas questões e não se espera mudanças profundas na Igreja em temas como divórcio, aborto ou casamento de pessoas do mesmo sexo.

Novaro acredita que na direção contrária pode haver um sacrifício desta agenda por parte do governo. "O kirchnerismo excluiu a Igreja do debate e agora não pode mais excluir", aposta. O advogado Andrés Prietro, que conviveu com Bergoglio na Igreja desde criança, sabe das convicções do papa, mas acha que algum avanço é possível. (MM)

domingo, 17 de março de 2013

Histórico de rivalidade com o casal Kirchner


Matéria publicada no Diário do Nordeste, no último dia 15, sobre o impacto da escolha do papa Francisco na política Argentina

Buenos Aires - A presidente Cristina Kirchner ganha um rival de peso no cenário político da Argentina. O papa Francisco é agora o argentino mais importante do mundo, chefe de um estado, o Vaticano, e líder de 1,2 bilhão de fiéis. "Isto implica numa influência, mesmo que de forma indireta. A presidente vai dividir o poder com outro líder influente", afirma o cientista político Fabián Perechodnik, da consultora Poliarquia.

"A eleição do papa Francisco é a notícia de maior relevância no cenário político argentino desde o falecimento de Néstor Kirchner", afirma o cientista político Julio Burdman, da consultoria Analytica, se referindo ao marido e antecessor de Cristina, que morreu em 2010. Para o consultor, o papa será sem dúvidas um ator importante na América Latina e, em especial, na Argentina.

A dimensão do impacto na política interna do país já começa a ser discutida, passada a surpresa do anúncio do nome do arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, como papa e as comemorações que tomaram conta da capital argentina. A relação dele com os Kirchner não tem sido boa desde o governo de Néstor, marcada por momentos que vão da frieza à tensão.

Mas, agora, Perechodnik aposta numa possível aproximação da presidente Cristina Kirchner com o papa. "É um governo que elege temas muito midiáticos e tem habilidade para pautar a agenda pública. A escolha do papa coloca a Argentina na agenda positiva mais do que nunca", analisa o cientista político.

Reação fria

A reação da presidente argentina à escolha do novo papa foi vista como fria, pelos analistas e por políticos de oposição. Ela mandou uma carta "desejando sorte" e mencionou o dia histórico em um discurso. "Qualquer presidente ficaria feliz e se manifestaria de forma mais marcante", diz Perechodnik.

Por outro lado, o anúncio de que estará presente na cerimônia de assunção do papa já é visto como um sinal de aproximação. Cristina irá a Roma, acompanhada de líderes da oposição e do presidente da Suprema Corte do país.

O conflito de Bergoglio com o casal Kirchner teve início em 2004, após uma homilia que desagradou a Néstor. Desde então, o governo rompeu a tradição de quase duzentos anos: a celebração de uma missa anual no dia 25 de maio, data da independência, pelo arcebispo de Buenos Aires, com a presença do Presidente da República.

Articulador

Segundo Burdman, "Néstor Kirchner enxergava Bergoglio como um político, um articulador da oposição, mais do que como sacerdote". Já no primeiro governo de Cristina, que é considerada mais católica do que era o marido, a relação com Bergoglio chegou a ser mais moderada. Mas a trégua só durou até a aprovação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, muito criticada pelo então arcebispo de Buenos Aires. Em temas como este o papa Francisco é considerado conservador. Também critica, por exemplo, uso de métodos anticoncepcionais.

Mesmo assim, existe um sentimento, principalmente, entre os mais religiosos, de que o Papa Francisco pode favorecer uma outra reaproximação: a da Igreja com os fiéis.

Como ponto negativo na biografia de Bergoglio pesam suspeitas de cumplicidade com a última ditadura militar do país, que teve mais de 30 mil desaparecidos, segundo estimativas de entidades de Direitos Humanos. Bergoglio foi acusado de tirar a proteção de dois padres que realizavam trabalho sociais em bairros pobres, quando era o responsável pela congregação jesuíta.

MARINA MOTA
ESPECIAL PARA INTERNACIONAL

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Acho que vi um gatinho



Por aqui as férias escolares são maiores do que no Brasil no começo do ano. As aulas do Tomás só começam na sexta (1/3). Por enquanto, ele está numa colônia de férias da própria escola, mas sai mais cedo do que no período das aulas. Por isso, sobra tempo livre e energia pra gastar.

Sempre que posso (quando não estou trabalhando no fim do dia, não está quente demais ou chovendo demais), tento inventar algum programinha depois da colônia pra ele.

Um dos nossos passeios preferidos nestas férias é o Jardim Botânico de Palermo. Acho inclusive que vou fazer nossa despedida das férias lá. Fica perto de casa, é bonito, bem sombreado (importantíssimo nas tardes de calor) e tem muitos gatinhos (daqueles de quatro patas, não me interpretem mal).  

Apesar de ficar próximo a lugares bastante visitados como o zoológico e o bosque de Palermo, o Jardim Botânico costuma passar despercebido por quem transita por ali. É quase um tesouro escondido no encontro de duas das avenida mais movimentas de Buenos Aires, a Las Heras e a Santa fé.

Para quem procura um pouco de sossego no meio da correria e do barulho da cidade grande não pode haver lugar melhor. Muitos arriscam uma soneca na sombra das árvores. Para quem gosta de botânica, são sete hectares com espécies de todos os continentes. Há uma área dedicada à flora brasileira. E quem gosta de gatos vai encontrar inúmeros por lá. Eles são catalogados e cuidados pelos Jardim.

O Tomás adorar admirar os bichinhos. Procura um preto, depois um cinza, um marrom, um amarelo. Se despede de um e vai trás de outro. Tenta encontrá-los quando se escondem. E até conversa: "tchau gatinho preto, agora vou procurar o gatinho cinza."

Estes dois aí da foto, reencontramos outro dia já crescidos, mas ainda juntos. 


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Buenos Aires amplia circuito cultural


Por Marina Mota | Para o Valor, de Buenos Aires
Divulgação / Divulgação
Aberto em 2012 em Puerto Madero, o Museu do Humor é resultado da reivindicação de mais de uma década de artistas gráficos e cartunistas locais
No tradicional bairro de San Telmo, um dos mais antigos de Buenos Aires, na Argentina, e conhecido pelas vendas de antiguidades e casas de tango, um moderno prédio espelhado contrasta com a arquitetura. Lá funciona, desde setembro, o Museu de Arte Contemporânea de Buenos Aires (Macba).
O novo espaço cultural é mais um investimento privado nas artes, seguindo o exemplo do mais antigo e conhecido Museu de Arte Latino Americana (Malba), do empresário do mercado financeiro e imobiliário Eduardo Constantini, e de iniciativas recentes como a Coleção de Arte Amalia Lacroze de Fortabat e o Faena Arts Center.
O Macba possui coleção com ênfase na arte abstrata geométrica. O acervo foi iniciado nos anos 1980 pelo consultor do mercado financeiro Aldo Rubino, reunindo obras de artistas como o venezuelano Carlos Cruz-Diez, os argentinos Enio Iommi, Gyula Kosice e Raúl Lozza (1911-2008) e os brasileiros Lothar Charoux (1912-1987), Almir da Silva Mavignier e João José Costa da Silva.
A curadora do museu e mulher de Rubino, Constanza Cerullo, não revela o valor gasto na obra de construção do prédio nem na aquisição das obras, mas afirma que existe uma demanda para justificar esse tipo de investimento. "Buenos Aires sempre foi um polo artístico importante. O público é bastante receptivo a atividades do setor cultural", diz.
Em apenas quatro meses, o Macba recebeu 15 mil visitantes. No ano passado, mais de 5 milhões de pessoas visitaram os museus de todo o país, segundo levantamento divulgado pela agência de notícias do governo argentino, a Télam. O recordista é o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), de entrada gratuita, com 1,4 milhão de visitantes.
O Macba destaca a arte abstrata geométrica
O Malba recebeu mais de 340 mil pessoas e, de acordo com o Observatório de Turismo da Cidade de Buenos Aires, é o segundo mais visitado por estrangeiros, atrás apenas do Museu Evita. Inaugurado em 2001, atrai especialmente a curiosidade dos brasileiros por guardar um tesouro: o "Abaporu", de Tarsila do Amaral (1886-1973), comprado por US$ 1,5 milhão em 1995.
Embora ainda menos conhecidos, a Coleção Fortabat e o Faena Arts Center têm pelo menos um ponto forte para se consolidarem no roteiro dos estrangeiros: a localização em Puerto Madero.
O bairro é uma antiga região portuária que se converteu na maior aposta imobiliária da cidade e tem grande apelo turístico. O primeiro abriu as portas em 2008 para exibir a coleção particular da empresária Amalia de Fortabat, que morreu no ano passado. Já o Faena, inaugurado em 2011 num moinho centenário, é um espaço para grandes instalações, como o crochê suspenso do brasileiro Ernesto Neto, exposto no ano passado.
O setor público também investe em novos espaços culturais. Do governo federal, um dos destaques é o Museu do Livro e da Língua, na Recoleta, que, embora menor, tem aspectos em comum com o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, como interatividade e acervo virtual.
"Visitamos o museu brasileiro e vimos que nosso orçamento era muito menor. Mas nos alegra quando os brasileiros chegam aqui e dizem que há semelhança entre os dois", diz Cecília Calandria, assessora cultural da Biblioteca Nacional, à qual o museu é vinculado. O custo do espaço, que mostra a história da língua escrita e falada na Argentina, foi de 12 milhões de pesos em 2011, cerca de R$ 5 milhões.
Em maiores proporções são as cifras da Prefeitura de Buenos Aires, que tem à frente Maurício Macri, um dos principais opositores da presidente Cristina Kirchner. Um exemplo foi o investimento de mais de 110 milhões de pesos, ou cerca de R$ 50 milhões, para transformar uma usina elétrica do início do século passado, na Boca, em uma casa de espetáculos para até 1.200 pessoas na sala de concertos e 400 na destinada a orquestras de câmara.
A Usina das Artes abriu as portas em maio. Para o vice-diretor do espaço, Gustavo Mozzi, a qualidade acústica é um destaque. "Temos a melhor acústica depois do Teatro Colón", diz.
Ao lado da Usina, foi reinaugurado, numa nova sede em 2011, o Museu do Cinema Pablo Ducrós Hicken, depois de ficar fechado por sete anos. "Já veio gente do México, do Uruguai para conhecer e levar o modelo a outros países", diz a diretora Paula Didier sobre o espaço, destinado exclusivamente à memória do cinema numa configuração de museu.
Divulgação
A Usina das Artes recebe orquestras e concertos
O acervo tem raridades como uma das nove câmeras dos irmãos Lumiére existentes no mundo e uma cópia com trechos inéditos de "Metrópolis" (1927), de Fritz Lang, além de figurinos, croquis, roteiros originais e mais de 60 mil latas de filmes, principalmente do cinema argentino.
Outra novidade do circuito cultural portenho é o Museu do Humor, instalado no prédio da cervejaria Munich, dos anos 1920, em Puerto Madero. O lugar abriu as portas no ano passado para contar a história da arte gráfica argentina desde o século XIX.
O país tem tradição na área, com nomes de sucesso mundial, como o cartunista Quino e a sua mais famosa criação, Mafalda. Segundo o diretor do espaço, Hugo Maradei, a inauguração do museu é resultado de uma reivindicação de mais de uma década de artistas gráficos e cartunistas locais.
O circuito turístico do humor se completa com o recém-lançado Paseo de la Historieta. A ideia é instalar até o final deste ano estátuas de 15 personagens, a partir da Mafalda, que ocupa uma esquina de San Telmo desde 2009, seguindo pelas ruas do bairro de Montserrat até chegar ao museu. "Para transformar os desenhos 2D em monumentos 3D contamos com a ajuda dos próprios cartunistas", afirma Maradei.
A maioria dos investimentos se concentra na zona sul da cidade, área mais pobre (com exceção de Puerto Madero) do que a zona norte, onde estão bairros como Palermo e Recoleta. Uma lei municipal, aprovada em dezembro, transforma parte da região em Distrito das Artes e prevê incentivos, como isenção de impostos sobre faturamento por dez anos, descontos de impostos que vão de 25% a 35% do valor dos investimentos, além de possibilidade de linha de crédito do banco municipal.
"É uma região que convoca artistas naturalmente e, transformada em corredor cultural, vai se desenvolver da melhor forma possível", diz Mozzi.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Uma exposição de animais pré-históricos


O Tomás adora animais e tudo que tem a ver com eles. Música com animais, histórias, brinquedos e passeios, claro. Mas tem uma predileção especial pelos dinossauros.

No ano passado, visitamos um parque temático de dinossauros e ele não esqueceu até hoje. Vive falando que foi para um "zoológico" de dinossauros, que eles são grandes, tem patas pequenas e boca larga (assim mesmo, misturando português e espanhol). Ah, e fazem Ahrrrrr!!

Quando eu e o César vimos o anúncio de mais uma exposição com dinossauros, não tivemos a menor dúvida de que seria o nosso programa do fim de semana. E o Tomás mais uma vez adorou.

A exposição, na sede da Rural em Palermo, vai até 24 de fevereiro e é uma viagem no tempo desde a era do gelo até os dinossauros. Ou seja, os "bichinhos" que meu filho tanto gosta são só uma parte desta história. Há diversos outros animais: mamutes, pinguins gigantes, elefantes pré-históricos e até alguns antepassados nossos.

Parte menor ainda desta história somos nós, seres humanos. Um filme em 3D exibido no local divide o tempo no planeta terra em pequenos quadradinhos em folhas de papel exatamente para ilustrar a nossa pequenez diante da grandeza do tempo e do universo. A humanidade é apenas uma folha dentre centenas.

Vale dizer que os dinossauros desta vez não são tão reais como os que vimos em Tecnópolis. Mas para quem é criança e tem imaginação de sobra, como o Tomás, acho que nem faz diferença. Bom mesmo é viajar no tempo.
 



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Nosso adeus ao metrô mais antigo do mundo


O metrô mais antigo do mundo ainda em circulação era o da linha A de Buenos Aires, que deixa de funcionar hoje (11/01). A gente foi lá se despedir. E o que mais tinha era gente com câmera na mão. Jornalistas, turistas, curiosos ou mesmo quem usava os vagões de madeira só como meio de transporte queriam um último registo. Também fiz os meus.

A semana por aqui foi marcada pela polêmica da retirada dos trens antigos. Para a substituição por outros mais modernos, a linha vai ficar quase dois meses sem operar, deixando muita gente sem transporte ou sem ganha pão, no caso dos comerciantes das estações da linha, que liga a praça de Maio a Carabobo. Fora, claro, a perda de um patrimônio histórico.

Os vagões ainda em funcionamento eram os mesmo fabricados pela empresa La Brugeoise e importados da Bélgica há quase um século. Em 1913, Buenos Aires foi a décima terceira cidade do mundo e a primeira da América Latina a ter serviço de metrô. No Brasil, o transporte subterrâneo só chegou nos anos 1970. 

Depois de um bombardeio de críticas, a prefeitura já prometeu ressarcir os comerciantes e preservar os vagões antigos, transformando-os em bibliotecas a serem instaladas em praças públicas. Tomara. Mas mesmo assim, Buenos Aires vai perder um pouco de charme.