Em Buenos Aires

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Liberdade, liberdade

Pronto, era só o que me faltava. O Tomás aprendeu a sair do berço. Deixei o quarto e ele estava lá quietinho, dormindo. Depois de algum tempo, ouvi uns barulhinhos que só ele sabe fazer. Voltei ao quarto e o berço estava vazio. Ele já estava na sala, em pé, morrendo de rir, esperando ser encontrado. Pela manhã, saiu sozinho novamente.

Eu já sabia há algum tempo que essa coisa de dormir no berço não ia durar muito. Ele tentava sair desde os três meses e agora, que conseguiu, está todo orgulhoso do feito.

É hora de começar mais uma etapa, a de passar a dormir de cama. Já procurei e não encontro uma minicama para comprar, parece que aqui não é tão comum quanto no Brasil. Acho que vou colocar uma grade removível na bicama do quarto dele e seja o que Deus quiser.

O que mais me assusta no momento é imaginar que o Tomás, com todo o seu discernimento de 1 ano e 7 meses, pode sair andando sozinho, a qualquer da noite, pela casa. E agora, como faz?  

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Borges e a cidade

O passeio começou na rua Maipú, 994, no bairro Retiro, endereço onde Borges viveu por mais de 40 anos até sair de Buenos Aires. Passou pela Galeria del Este, quase em frente ao apartamento do escritor. Lá, havia uma livraria e, no último dia de Borges na Argentina, ele esteve no local autografando livros.

A caminhada continuou pela Praça San Martin, também frequentada pelo autor portenho. O destino final era a casa do poeta Oliverio Girondo, hoje um anexo do Museu de Arte Hispono-americana Isaac Fernandez Blanco. Entre uma residência e outra, hotéis de luxo, lojas de antiguidades, uma famosa boate dos anos 1970, palácios residenciais.

Girondo foi um poeta de vanguarda, que passou alguns anos no Brasil, escreveu um poema intitulado Rio de Janeiro. Promovia festas com convidados ilustres como Garcia Lorca, Pablo Neruda e também Borges. Mas, além de companheiros de algumas noitadas, vocês devem estar se perguntando o que Borges e Girondo têm em comum. A resposta é nada.

O serviço turístico de Buenos Aires usa temas como a literatura, a música, a história para criar circuitos de visitas guiadas. Este reuniu os últimos anos de Borges e a boemia de Girondo, mas a história dos autores é apenas um pano de fundo do tour. A grande protagonista é a cidade.

A cidade também é uma figura central no filme Medianeras. Não fosse ela, seria apenas mais uma comédia romântica para se esquecer na próxima esquina. Mas as comparações dos contrastes urbanos com os dos personagens elevam o filme de categoria. E esses contrastes estão muito pesentes na praça San Martin, pertinho da casa do Borges; o moderno e o antigo, o com estilo e o sem estilo, e por aí vai.

Ali de frente para a praça também está o edifício Kavanagh, que já foi o mais alto da América Latina. Reza a lenda que Corina Kavanagh construiu o prédio para separar a casa dos Anchorena da igreja construída por esta família, desagradando a matriarca Mercedes (desafeto dela, digamos assim). Essa história aparece no filme.

A cidade separa e, por fim, acaba unindo os personagens em Medianeras. Mas não seria assim também, muitas vezes, na vida real?

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Oriente é aqui

Finalmente, fomos ao bairro chino. Vários amigos do Brasil viram a matéria da Delis Ortiz na TV Globo e escreviam dizendo que devíamos ir lá. Na verdade, fiquei com vontade de conhecer desde que li e guardei uma matéria que saiu há algumas semanas no La Nación. Mas foi depois de assistir a Um conto chino, último filme do Ricardo Darín, que a vontade aumentou.

O lugar parece um pedacinho do Oriente em Buenos Aires. Tem desde artesanato chinês (ou o que poderia ser algo próximo disso) a produtos made in china das nossas famosas lojas de 1,99. Os supermercados vendem comidas que nem imagino o que sejam, mas também mariscos frescos, grãos (nosso feijãozinho tão raro por aqui), farinha (sim, de mandioca) e, pasmem, suco maguari direto do Brasil.

Mas o que dá mesmo água na boca são os restaurantes. Muitos chineses, mas também de comida oriental, como uma filial do famoso parisiense Buddha, e ainda o primeiro tailandês da Argentina, o Lotus. Este último foi a nossa escolha para o almoço.

Além de lindo, o restaurante tem uma comida deliciosa, seguindo os princípios tailandeses de reunir todos os sabores - doce, picante, ácido, amargo e salgado - num mesmo prato. Até o Tomás experimentou uma ou outra coisa e gostou.


Tomás ensaiando comer de hashi

O bairro chino fica em Belgrano, onde também está a única região considerada montanhosa da cidade (quem já morou em Beagá fica se peguntando onde estão as ladeiras) e o museu de arte espanhola Enrique Larreta, que eu também já queria conhecer há algum tempo. A coleção é incrível, mais ainda, porque pertenceu a uma única pessoa. Vale a visita, afinal, Buenos Aires é muito, mas muito mais mesmo, que Recoleta e Florida.

Ah, ia esquecendo de dizer. O Tomás está cada dia mais acostumado a visitar museus, se comporta direitinho e até se diverte, observando as obras ou brincando no jardim, como fez no museu Larreta.        

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Era uma vez um bebê...

Quando saímos de Beagá e deixamos pra trás o quarto do Tomás e quase toda a parafernália de bebê, acho que, de certa forma, também decidimos deixar um bebê no Brasil e trazer um menino pra Buenos Aires. E, pelo visto, o Tomás está cumprindo o combinado.

Não sei se as crianças são assim mesmo, amadurecem da noite para o dia, ou se a nossa falta de superproteção e de zelo excessivo acabaram por forçar um amadurecimento mais precoce do Tomás. De qualquer forma, a minha maior preocupação sempre foi criar um filho forte e independete. Então, até aqui estamos indo bem.

A fase de adaptação às mudanças passou rápido e o Tomás parece curtir a vida nova tanto quanto a gente. Tem amigos na escola - já fica lá de meio-dia às 17h e no próximo ano vai ficar o dia todo- e é nosso companheirinho de todas as horas, de passeios no parque a visitas a museus (sim, ele adora ver exposições) e farras de carne e batata frita, com direito a sorvete de doce de leite de sobremesa.

Independente, quer fazer tudo sozinho, até comer. Toma banho de chuveiro. Escolhe o tênis que vai calçar e o DVD que quer assistir. Pede para mudar o canal da TV, para ver fotos dos avós e para falar com eles no computador. Não chora por quase nada. Organizado, ajuda a guardar os brinquedos. Quando troca a fralda, pega a suja e coloca no lixo. Se vê um sapato no meio da casa, vai correndo colocar no guarda-roupa.

Quase bilíngue. Quase porque ainda não fala tudo, mas entende tanto o português quanto o espanhol e obedece nas duas línguas. E mais que isso, compreende. Se explico que tal coisa não pode ser assim, ele aceita. Se digo que o papai viajou e só volta amanhã a noite, não pergunta por ele até que chegue a hora do retorno. E também já arrisca algumas palavrinhas na língua dos hermanos.

Além dos amiguinhos da escola, tem uma melhor amiga, a Lina - filha da minha ajudante peruana com um marroquino. Quando ela chega, é uma festa em casa. Os dois adoram a galinha pintadinha e são cúmplices nas travessuras.

Ontem, pela primeira vez, não tomou mamadeira de madrugada. Acho que era uma necessidade maior da minha parte que da dele. Eu dava enquanto ele dormia, porque o Tomás sempre comeu pouco e não ganhava muito peso. E confesso: era um momento muito nosso, quando eu ainda o sentia muito pequeno e desprotegido nos meus braços. Mas agora ele está comendo melhor e engordou quase um quilo nos últimos dois meses. Ou seja, é hora da mamãe ouvir os pediatras e ter coragem pra mudar o comportamneto. Se o Tomás amadurece, a mamãe também precisa amadurecer.