Em Buenos Aires

sexta-feira, 22 de março de 2013

Sem fralda e com muita atitude

Como sempre, quem decide é ele. Quando eu penso em ir, o Tomás já está voltando. E assim foi com a fralda.

No ano passado, comecei a incentivá-lo a usar ao banheiro, deixá-lo mais tempo em casa sem fralda. Ele estava quase chegando lá, mas a gente viajou de férias, depois de recesso, mudamos toda a rotina. Entre indas e vindas, foram quase dois meses fora. E na volta, ele não queria ficar sem fralda.

A minha inexperiência começou a me deixar angustiada. Sabia que era cedo, não podia forçá-lo, mas o frio estava chegando e seria muito mais complicado. Comecei tudo de novo, tentei motivá-lo com cuecas novas, livrinhos e um quadro para colar estrelinhas cada vez que fosse ao banheiro.

A estratégia funcionou, mas começaram as aulas, com sala nova, professoras e amiguinhos novos e eu achei que precisava dar um tempo, para não fazê-lo passar por mais de uma mudança de um só vez (e ele já passou por tantas!). Continuei em casa, meio como uma brincadeira e não avisei nada na escola. Até que a professora me chamou e falou: o Tomás pediu várias vezes para ir ao banheiro hoje e disse que não vai mais usar fralda.

Ele decidiu que era hora e era hora. No dia seguinte, foi pra escola sem fralda, passou o dia todo e não precisou trocar de roupa nenhuma vez. E no outro dia também e assim por diante.

Foi muito, mas muito mais fácil do que eu pensava. Se tem uma característica que é marcante na personalidade do Tomás é a decisão. Quando ele quer, quer, quando não quer, é difícil fazê-lo mudar de ideia. Dizem que os taurinos são teimosos e ele me faz acreditar nisso.

Agora decidiu que não leva mais a chupeta pra escola. Dorme lá depois do almoço sem chupeta. E olhem que ele é muito viciado na chupeta. Mas agora só para dormir e em casa. Pelo visto, também vai ser mais fácil superar esta etapa do que eu pensei. É só esperar que ele decida quando vai ser.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Mais do Papa Francisco

Matérias publicadas no Diário do Nordeste


40 mil veem cerimônia na Catedral

20.03.2013

Argentinos que fizeram vigília em frente à igreja onde Bergoglio rezava missas receberam telefonema do papa

Surpresa e emoção marcaram madrugada dos fiéis que foram ao local acompanhar a missa inaugural do pontificado do argentino foto; Reuters

Buenos Aires. Com os olhos grudados nos telões instalados na Praça de Maio em frente à Catedral de Buenos Aires, cerca de 40 mil fiéis acompanharam a cerimônia de entronização do papa Francisco no Vaticano. Jovens, idosos, crianças, famílias inteiras demonstravam o orgulho de ter um papa argentino e próximo dos humildes.

Às 5h da manhã, quando o papa Francisco entrava para a cerimônia, fiéis rezaram a oração de São Francisco e cantaram o hino do Vaticano. Foram distribuídos ramos de oliva - numa alusão ao domingo de ramos - retirados de uma oliveira plantada por ele ao lado da Catedral.

Rafael Cabral, 26 anos, assistia emocionado com um galho nas mãos. "Ele lavou os meus pés e mudou a minha vida. Ninguém nunca foi capaz de um gesto assim por mim", conta. O jovem está há seis meses num centro de reabilitação da Igreja. Voltou a estudar e a acreditar.

O dia começava a clarear quando Jorge Bergoglio recebeu o anel do pescador e o pálio - símbolos da autoridade papal - e rezou a homilia. O papa lembrou que é preciso "acolher com afeto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, (...) quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão".

A homilia que também destacou a missão de São José - santo do dia e padroeiro do Ceará - reforça a ideia de uma aproximação da Igreja com os fiéis. Nem o frio de 18 graus nem a garoa de véspera de outono em Buenos Aires desanimou os presentes, que começaram a chegar ainda durante a noite do dia 18, carregando bandeiras do Vaticano e da Argentina.

"Estou cansado, mas esta é uma oportunidade única", dizia o estudante Juan Martin, 16 anos, que segurava um cartaz com a frase: "Com o papa Francisco, a Juventude volta com força à Igreja".

Surpresa

A noite de vigília, oração e música foi marcada também por uma surpresa: um telefonema do Papa. Jorge Bergoglio ligou de Roma para o celular do reitor da Catedral, Alejandro Russo, às 3h30 em Buenos Aires, e a chamada foi conectada aos alto-falantes da Praça para que fiéis pudessem ouvir a mensagem.

O papa começou agradecendo as preces. Em seguida, pediu aos fiés para deixarem de lado os ódios e não temerem à Deus, que sempre perdoa. "Que não exista ódio, nem brigas. Deixem de lado a inveja e ´não arranquem o couro de ninguém´; dialoguem, cresçam no coração e se acerquem de Deus", disse.

Mais uma vez, pediu que rezassem por ele: "Por favor, não se esqueçam deste bispo, que está longe, mas ama muito vocês". Antes de desligar, abençoou os presentes, que aplaudiam e gritavam de emoção.

"Eu chorei junto à imagem da virgem de Lujan. Era como um pai falando com os seus filhos. Senti que ele estava próximo, como sempre esteve. É o papa, mas continua sendo o nosso Jorge Bergoglio" contou orgulhosa a missionária Carmen Savala, que trabalha como cozinheira na Paróquia de Santa Elisa, no bairro Barracas. "Ele sempre nos dizia para sair e ajudar as pessoas", acrescentou.
MARINA MOTA
ESPECIAL PARA INTERNACIONAL

ILHAS MALVINAS

Francisco não deve se envolver

20.03.2013
Buenos Aires. A presidente Cristina Kirchner, na conversa que manteve com o papa Francisco na última segunda-feira, fez o convite formal para que ele venha à Argentina em julho, por ocasião da visita que fará ao Brasil durante a Jornada Mundial da Juventude. A amabilidade entre os chefes dos Estados Argentino e o do Vaticano chama a atenção de quem conhece o histórico de conflito entre os dois.

"Cristina está tentando tirar algum proveito da popularidade do papa. Criticá-lo agora seria suicida", analisa o cientista político Marcos Novaro, do Centro de Investigações Políticas (Cipol).

Malvinas

Um dos pedidos de Cristina ao papa foi a mediação na disputa com a Inglaterra pelas Ilhas Malvinas. Mas Novaro não acredita que o papa atenda a reivindicação. "Ele é um político habilidoso e não vai se meter nesta confusão", disse.

No ano passado, o então cardeal Bergoglio realizou uma missa pelas Malvinas e afirmou: "Quantas cicatrizes, quantas famílias destruídas pela ausência definitiva ou por um retorno truncado. A pátria tem que se lembrar de todos eles".

Qualquer coincidência da declaração dele com a agenda política do governo argentino se encerra aí. Temas como direitos civis e de minorias são prioritários na pauta de Cristina. No Congresso Argentino, tramita um projeto de novo código civil e, em 2012, foram aprovadas leis garantindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a mudança de gênero.

Enquanto cardeal, Bergoglio foi muito crítico a estas questões e não se espera mudanças profundas na Igreja em temas como divórcio, aborto ou casamento de pessoas do mesmo sexo.

Novaro acredita que na direção contrária pode haver um sacrifício desta agenda por parte do governo. "O kirchnerismo excluiu a Igreja do debate e agora não pode mais excluir", aposta. O advogado Andrés Prietro, que conviveu com Bergoglio na Igreja desde criança, sabe das convicções do papa, mas acha que algum avanço é possível. (MM)

domingo, 17 de março de 2013

Histórico de rivalidade com o casal Kirchner


Matéria publicada no Diário do Nordeste, no último dia 15, sobre o impacto da escolha do papa Francisco na política Argentina

Buenos Aires - A presidente Cristina Kirchner ganha um rival de peso no cenário político da Argentina. O papa Francisco é agora o argentino mais importante do mundo, chefe de um estado, o Vaticano, e líder de 1,2 bilhão de fiéis. "Isto implica numa influência, mesmo que de forma indireta. A presidente vai dividir o poder com outro líder influente", afirma o cientista político Fabián Perechodnik, da consultora Poliarquia.

"A eleição do papa Francisco é a notícia de maior relevância no cenário político argentino desde o falecimento de Néstor Kirchner", afirma o cientista político Julio Burdman, da consultoria Analytica, se referindo ao marido e antecessor de Cristina, que morreu em 2010. Para o consultor, o papa será sem dúvidas um ator importante na América Latina e, em especial, na Argentina.

A dimensão do impacto na política interna do país já começa a ser discutida, passada a surpresa do anúncio do nome do arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, como papa e as comemorações que tomaram conta da capital argentina. A relação dele com os Kirchner não tem sido boa desde o governo de Néstor, marcada por momentos que vão da frieza à tensão.

Mas, agora, Perechodnik aposta numa possível aproximação da presidente Cristina Kirchner com o papa. "É um governo que elege temas muito midiáticos e tem habilidade para pautar a agenda pública. A escolha do papa coloca a Argentina na agenda positiva mais do que nunca", analisa o cientista político.

Reação fria

A reação da presidente argentina à escolha do novo papa foi vista como fria, pelos analistas e por políticos de oposição. Ela mandou uma carta "desejando sorte" e mencionou o dia histórico em um discurso. "Qualquer presidente ficaria feliz e se manifestaria de forma mais marcante", diz Perechodnik.

Por outro lado, o anúncio de que estará presente na cerimônia de assunção do papa já é visto como um sinal de aproximação. Cristina irá a Roma, acompanhada de líderes da oposição e do presidente da Suprema Corte do país.

O conflito de Bergoglio com o casal Kirchner teve início em 2004, após uma homilia que desagradou a Néstor. Desde então, o governo rompeu a tradição de quase duzentos anos: a celebração de uma missa anual no dia 25 de maio, data da independência, pelo arcebispo de Buenos Aires, com a presença do Presidente da República.

Articulador

Segundo Burdman, "Néstor Kirchner enxergava Bergoglio como um político, um articulador da oposição, mais do que como sacerdote". Já no primeiro governo de Cristina, que é considerada mais católica do que era o marido, a relação com Bergoglio chegou a ser mais moderada. Mas a trégua só durou até a aprovação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, muito criticada pelo então arcebispo de Buenos Aires. Em temas como este o papa Francisco é considerado conservador. Também critica, por exemplo, uso de métodos anticoncepcionais.

Mesmo assim, existe um sentimento, principalmente, entre os mais religiosos, de que o Papa Francisco pode favorecer uma outra reaproximação: a da Igreja com os fiéis.

Como ponto negativo na biografia de Bergoglio pesam suspeitas de cumplicidade com a última ditadura militar do país, que teve mais de 30 mil desaparecidos, segundo estimativas de entidades de Direitos Humanos. Bergoglio foi acusado de tirar a proteção de dois padres que realizavam trabalho sociais em bairros pobres, quando era o responsável pela congregação jesuíta.

MARINA MOTA
ESPECIAL PARA INTERNACIONAL