Em Buenos Aires

quinta-feira, 21 de março de 2013

Mais do Papa Francisco

Matérias publicadas no Diário do Nordeste


40 mil veem cerimônia na Catedral

20.03.2013

Argentinos que fizeram vigília em frente à igreja onde Bergoglio rezava missas receberam telefonema do papa

Surpresa e emoção marcaram madrugada dos fiéis que foram ao local acompanhar a missa inaugural do pontificado do argentino foto; Reuters

Buenos Aires. Com os olhos grudados nos telões instalados na Praça de Maio em frente à Catedral de Buenos Aires, cerca de 40 mil fiéis acompanharam a cerimônia de entronização do papa Francisco no Vaticano. Jovens, idosos, crianças, famílias inteiras demonstravam o orgulho de ter um papa argentino e próximo dos humildes.

Às 5h da manhã, quando o papa Francisco entrava para a cerimônia, fiéis rezaram a oração de São Francisco e cantaram o hino do Vaticano. Foram distribuídos ramos de oliva - numa alusão ao domingo de ramos - retirados de uma oliveira plantada por ele ao lado da Catedral.

Rafael Cabral, 26 anos, assistia emocionado com um galho nas mãos. "Ele lavou os meus pés e mudou a minha vida. Ninguém nunca foi capaz de um gesto assim por mim", conta. O jovem está há seis meses num centro de reabilitação da Igreja. Voltou a estudar e a acreditar.

O dia começava a clarear quando Jorge Bergoglio recebeu o anel do pescador e o pálio - símbolos da autoridade papal - e rezou a homilia. O papa lembrou que é preciso "acolher com afeto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, (...) quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão".

A homilia que também destacou a missão de São José - santo do dia e padroeiro do Ceará - reforça a ideia de uma aproximação da Igreja com os fiéis. Nem o frio de 18 graus nem a garoa de véspera de outono em Buenos Aires desanimou os presentes, que começaram a chegar ainda durante a noite do dia 18, carregando bandeiras do Vaticano e da Argentina.

"Estou cansado, mas esta é uma oportunidade única", dizia o estudante Juan Martin, 16 anos, que segurava um cartaz com a frase: "Com o papa Francisco, a Juventude volta com força à Igreja".

Surpresa

A noite de vigília, oração e música foi marcada também por uma surpresa: um telefonema do Papa. Jorge Bergoglio ligou de Roma para o celular do reitor da Catedral, Alejandro Russo, às 3h30 em Buenos Aires, e a chamada foi conectada aos alto-falantes da Praça para que fiéis pudessem ouvir a mensagem.

O papa começou agradecendo as preces. Em seguida, pediu aos fiés para deixarem de lado os ódios e não temerem à Deus, que sempre perdoa. "Que não exista ódio, nem brigas. Deixem de lado a inveja e ´não arranquem o couro de ninguém´; dialoguem, cresçam no coração e se acerquem de Deus", disse.

Mais uma vez, pediu que rezassem por ele: "Por favor, não se esqueçam deste bispo, que está longe, mas ama muito vocês". Antes de desligar, abençoou os presentes, que aplaudiam e gritavam de emoção.

"Eu chorei junto à imagem da virgem de Lujan. Era como um pai falando com os seus filhos. Senti que ele estava próximo, como sempre esteve. É o papa, mas continua sendo o nosso Jorge Bergoglio" contou orgulhosa a missionária Carmen Savala, que trabalha como cozinheira na Paróquia de Santa Elisa, no bairro Barracas. "Ele sempre nos dizia para sair e ajudar as pessoas", acrescentou.
MARINA MOTA
ESPECIAL PARA INTERNACIONAL

ILHAS MALVINAS

Francisco não deve se envolver

20.03.2013
Buenos Aires. A presidente Cristina Kirchner, na conversa que manteve com o papa Francisco na última segunda-feira, fez o convite formal para que ele venha à Argentina em julho, por ocasião da visita que fará ao Brasil durante a Jornada Mundial da Juventude. A amabilidade entre os chefes dos Estados Argentino e o do Vaticano chama a atenção de quem conhece o histórico de conflito entre os dois.

"Cristina está tentando tirar algum proveito da popularidade do papa. Criticá-lo agora seria suicida", analisa o cientista político Marcos Novaro, do Centro de Investigações Políticas (Cipol).

Malvinas

Um dos pedidos de Cristina ao papa foi a mediação na disputa com a Inglaterra pelas Ilhas Malvinas. Mas Novaro não acredita que o papa atenda a reivindicação. "Ele é um político habilidoso e não vai se meter nesta confusão", disse.

No ano passado, o então cardeal Bergoglio realizou uma missa pelas Malvinas e afirmou: "Quantas cicatrizes, quantas famílias destruídas pela ausência definitiva ou por um retorno truncado. A pátria tem que se lembrar de todos eles".

Qualquer coincidência da declaração dele com a agenda política do governo argentino se encerra aí. Temas como direitos civis e de minorias são prioritários na pauta de Cristina. No Congresso Argentino, tramita um projeto de novo código civil e, em 2012, foram aprovadas leis garantindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a mudança de gênero.

Enquanto cardeal, Bergoglio foi muito crítico a estas questões e não se espera mudanças profundas na Igreja em temas como divórcio, aborto ou casamento de pessoas do mesmo sexo.

Novaro acredita que na direção contrária pode haver um sacrifício desta agenda por parte do governo. "O kirchnerismo excluiu a Igreja do debate e agora não pode mais excluir", aposta. O advogado Andrés Prietro, que conviveu com Bergoglio na Igreja desde criança, sabe das convicções do papa, mas acha que algum avanço é possível. (MM)

Nenhum comentário:

Postar um comentário