Em Buenos Aires

domingo, 17 de março de 2013

Histórico de rivalidade com o casal Kirchner


Matéria publicada no Diário do Nordeste, no último dia 15, sobre o impacto da escolha do papa Francisco na política Argentina

Buenos Aires - A presidente Cristina Kirchner ganha um rival de peso no cenário político da Argentina. O papa Francisco é agora o argentino mais importante do mundo, chefe de um estado, o Vaticano, e líder de 1,2 bilhão de fiéis. "Isto implica numa influência, mesmo que de forma indireta. A presidente vai dividir o poder com outro líder influente", afirma o cientista político Fabián Perechodnik, da consultora Poliarquia.

"A eleição do papa Francisco é a notícia de maior relevância no cenário político argentino desde o falecimento de Néstor Kirchner", afirma o cientista político Julio Burdman, da consultoria Analytica, se referindo ao marido e antecessor de Cristina, que morreu em 2010. Para o consultor, o papa será sem dúvidas um ator importante na América Latina e, em especial, na Argentina.

A dimensão do impacto na política interna do país já começa a ser discutida, passada a surpresa do anúncio do nome do arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, como papa e as comemorações que tomaram conta da capital argentina. A relação dele com os Kirchner não tem sido boa desde o governo de Néstor, marcada por momentos que vão da frieza à tensão.

Mas, agora, Perechodnik aposta numa possível aproximação da presidente Cristina Kirchner com o papa. "É um governo que elege temas muito midiáticos e tem habilidade para pautar a agenda pública. A escolha do papa coloca a Argentina na agenda positiva mais do que nunca", analisa o cientista político.

Reação fria

A reação da presidente argentina à escolha do novo papa foi vista como fria, pelos analistas e por políticos de oposição. Ela mandou uma carta "desejando sorte" e mencionou o dia histórico em um discurso. "Qualquer presidente ficaria feliz e se manifestaria de forma mais marcante", diz Perechodnik.

Por outro lado, o anúncio de que estará presente na cerimônia de assunção do papa já é visto como um sinal de aproximação. Cristina irá a Roma, acompanhada de líderes da oposição e do presidente da Suprema Corte do país.

O conflito de Bergoglio com o casal Kirchner teve início em 2004, após uma homilia que desagradou a Néstor. Desde então, o governo rompeu a tradição de quase duzentos anos: a celebração de uma missa anual no dia 25 de maio, data da independência, pelo arcebispo de Buenos Aires, com a presença do Presidente da República.

Articulador

Segundo Burdman, "Néstor Kirchner enxergava Bergoglio como um político, um articulador da oposição, mais do que como sacerdote". Já no primeiro governo de Cristina, que é considerada mais católica do que era o marido, a relação com Bergoglio chegou a ser mais moderada. Mas a trégua só durou até a aprovação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, muito criticada pelo então arcebispo de Buenos Aires. Em temas como este o papa Francisco é considerado conservador. Também critica, por exemplo, uso de métodos anticoncepcionais.

Mesmo assim, existe um sentimento, principalmente, entre os mais religiosos, de que o Papa Francisco pode favorecer uma outra reaproximação: a da Igreja com os fiéis.

Como ponto negativo na biografia de Bergoglio pesam suspeitas de cumplicidade com a última ditadura militar do país, que teve mais de 30 mil desaparecidos, segundo estimativas de entidades de Direitos Humanos. Bergoglio foi acusado de tirar a proteção de dois padres que realizavam trabalho sociais em bairros pobres, quando era o responsável pela congregação jesuíta.

MARINA MOTA
ESPECIAL PARA INTERNACIONAL

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