Em Buenos Aires

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Muitos canais e pouca informação na TV argentina

A quantidade de canais de notícia na TV a cabo argentina chama a atenção. São oito canais e no Brasil apenas três. Assuntos como política e economia fazem muito mais sucesso entre os hermanos que entre nosotros.

Aqui, é mais do que comum debater sobre o governo com o taxista ou o porteiro do prédio. Discute-se  política e economia com a facilidade com que se fala de futebol ou de novela. Alguns cientistas políticos e economistas viram celebridades com direito a matéria de capa na revista Caras.

E a realidade se reflete na telinha, como diriam alguns teóricos por aí. Num canal, uma mesa redonda discute o câmbio, no outro a inflação, no outro a reforma da Constituição. Até debate sobre Foucault na TV eu já assisti. E pasmem, tem audiência.

Mas nem  a concorrência nem a audiência eleva a qualidade da televisão argentina (e falo de modo geral, não só dos canais de notícia) . Há bizarrices sem fim, mas eu prefiro me ater a falar do telejornalismo.

Uma matéria publicada hoje no La Nación questiona o mérito, a falta de pluralidade do noticiário. As críticas são relacionadas à cobertura do último panelaço. Milhares de pessoas nas ruas e muito pouco na TV.

Diria que falta agilidade também. E qualidade técnica. Há poucas reportagens. O mais comum é deixarem o link de vivo aberto com transmissões que vão de discurso presidencial, a protestas ou uma movimentação pós tentativa de assalto. Logo que cheguei o caso de uma menina desaparecida comoveu o país e a mãe dela, as tias, as vizinhas choravam o dia inteiro ao vivo na televisão.

Os telejornais geralmente tem bancadas enormes, com apresentadores que falam sobre tudo enquanto tomam café com medialuna. Antes dos intervalos toca até Michel Teló e Gustavo Lima. O pior dos canais de notícia usa música de suspense e letreiros (sempre os mesmos diga-se) para anunciar o início da primavera ou qualquer catástrofe.

Os brasileiros acostumados com a nossa boa e velha televisão tomam um choque. Pelo menos, os que ficam aqui em casa percebem e comentam a diferença. Quem me conhece sabe que sou apaixonada por televisão. Já trabalhei em televisão, estudei sobre televisão, adoro assistir TV e ler sobre o assunto, talvez por isso até prefiro não falar muito. E vou terminar o texto com uma justificativa/defesa (embora seja apenas uma hipótese minha, deve haver outros motivos também).

Recentemente, encontrei num livro um bom motivo que talvez explique o desnível entre a nossa TV e a argentina. Não existe uma tradição de televisão comercial. O serviço foi estatizado pelos militares e cada arma ficou responsável por um canal. Imagina como devia ser a programação da Marinha ou da Aeronáutica?? Só voltou à inciativa privada no início dos anos 1990. Ainda está engatinhando.

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