Em Buenos Aires

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Borges e a cidade

O passeio começou na rua Maipú, 994, no bairro Retiro, endereço onde Borges viveu por mais de 40 anos até sair de Buenos Aires. Passou pela Galeria del Este, quase em frente ao apartamento do escritor. Lá, havia uma livraria e, no último dia de Borges na Argentina, ele esteve no local autografando livros.

A caminhada continuou pela Praça San Martin, também frequentada pelo autor portenho. O destino final era a casa do poeta Oliverio Girondo, hoje um anexo do Museu de Arte Hispono-americana Isaac Fernandez Blanco. Entre uma residência e outra, hotéis de luxo, lojas de antiguidades, uma famosa boate dos anos 1970, palácios residenciais.

Girondo foi um poeta de vanguarda, que passou alguns anos no Brasil, escreveu um poema intitulado Rio de Janeiro. Promovia festas com convidados ilustres como Garcia Lorca, Pablo Neruda e também Borges. Mas, além de companheiros de algumas noitadas, vocês devem estar se perguntando o que Borges e Girondo têm em comum. A resposta é nada.

O serviço turístico de Buenos Aires usa temas como a literatura, a música, a história para criar circuitos de visitas guiadas. Este reuniu os últimos anos de Borges e a boemia de Girondo, mas a história dos autores é apenas um pano de fundo do tour. A grande protagonista é a cidade.

A cidade também é uma figura central no filme Medianeras. Não fosse ela, seria apenas mais uma comédia romântica para se esquecer na próxima esquina. Mas as comparações dos contrastes urbanos com os dos personagens elevam o filme de categoria. E esses contrastes estão muito pesentes na praça San Martin, pertinho da casa do Borges; o moderno e o antigo, o com estilo e o sem estilo, e por aí vai.

Ali de frente para a praça também está o edifício Kavanagh, que já foi o mais alto da América Latina. Reza a lenda que Corina Kavanagh construiu o prédio para separar a casa dos Anchorena da igreja construída por esta família, desagradando a matriarca Mercedes (desafeto dela, digamos assim). Essa história aparece no filme.

A cidade separa e, por fim, acaba unindo os personagens em Medianeras. Mas não seria assim também, muitas vezes, na vida real?

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